Demissões feitas na crise atingem mais trabalhadores sem carteira, diz Dieese
De acordo com os números, as pessoas contratadas sem registro em São Paulo atingiram 984 mil em setembro. É a primeira vez em que o número fica abaixo de 1 milhão
As demissões feitas no Brasil em consequência da crise econômica atingiram principalmente os empregados sem carteira assinada, mostram os dados da Pesquisa de Emprego e Desemprego da Fundação Seade e do Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos).
De acordo com os números, as pessoas contratadas sem registro em São Paulo atingiram 984 mil em setembro. É a primeira vez em que o número fica abaixo de 1 milhão. “Houve uma queda fantástica nos empregados sem carteira”, disse Alexandre Loloian, coordenador técnico da equipe de análises da Fundação Seade. “Tivemos um fortalecimento do bom emprego mesmo durante a crise.”
Nas seis regiões metropolitanas contabilizadas na pesquisa (Belo Horizonte, Distrito Federal, Porto Alegre, Recife, Salvador e São Paulo), o número de empregados sem carteira passou de 2,01 milhões em setembro de 2008 –mês que marcou o agravamento da crise mundial– para 1,69 milhão no mês passado.
“Nos momentos de incerteza, o que costuma ocorrer é um aumento dos empregos sem carteira assinada. Mas isso não aconteceu desta vez”, disse Loloian. Segundo ele, nesta crise, os primeiros a ser cortados foram aqueles sem registro, já que o custo de demitir esses trabalhadores é menor para as empresas.
Parte desses trabalhadores, segundo a coordenadora do levantamento pelo Dieese, Patrícia Lino Costa, pode ter se transferido para o grupo de trabalhadores autônomos, que registrou crescimento de 133 mil trabalhadores nas seis regiões metropolitanas entre setembro do ano passado e o deste ano. Os trabalhadores formais, por sua vez, tiveram aumento de 92 mil no período.
Rendimento
Segundo Loloian, a redução no número de trabalhadores sem registro explica, em parte, o forte crescimento do rendimento dos trabalhadores nos últimos meses. Segundo dados divulgados nesta quarta-feira, em agosto, o rendimento médio real dos ocupados no país subiu 1,2%, equivalendo a R$ 1.233. Já o dos assalariados subiu 0,9%, para R$ 1.310.
“O dado de rendimento expressa uma média entre os trabalhadores. E a remuneração dos sem carteira é sempre inferior”, disse o coordenador da Seade.
Patrícia e Loloian ressaltaram o crescimento da massa de rendimentos, que mede o volume de consumo da população. “A massa é a boa notícia”, disse Patrícia, do Dieese. O indicador subiu 2% entre os ocupados e 1,9% entre os assalariados em agosto, e supera até mesmo os maiores níveis atingidos antes da crise.
De acordo com os pesquisadores, o maior impacto para esse aumento foi o crescimento do rendimento médio. A tendência é inversa à que ocorria até o ano passado, quando o aumento da ocupação puxada a taxa.
Da Folha de São Paulo