Dengue! Quem é o culpado?
A epidemia de dengue
que assola o Rio de Janeiro
– 49 mortes até hoje, só neste
ano – e que é latente em quase
todo o resto do Brasil tem
provocado muitas acusações
entre autoridades municipais,
estaduais e federais.
Todos tentam passar para
a sociedade que o outro falhou
e essa estratégia desvia a
atenção da sociedade do verdadeiro
foco do problema.
Há 30 anos o Brasil
abandonou a saúde pública
em nome do modelo americano
da medicina curativa,
das policlínicas, da medicina
tecnológica e da gestão de
resultados.
Dentro dessa política o
serviço de saúde é melhor
quanto mais pessoas ele
atende. O médico ganha por
produtividade e os hospitais
são eficientes se operam em
capacidade máxima.
Esqueceram de nós
O bom senso manda que
as ações de saúde sejam no
sentido de preservar a saúde
da população. Para isso
existem os sanitaristas, médicos
especializados em saúde
pública, preventiva, que
tem como principal função
os estudos dos problemas, a
vigilância sanitária e epidemiológica,
o planejamento e
as ações preventivas.
Na prática isso significava
programar campanhas de
vacinação, combater o mosquito
da dengue, febre amarela,
malária, caçar o caramujo
da esquistossomose,
o barbeiro, os focos de verminoses,
e controlar zoonoses
como a raiva e a toxoplasmose.
Enfim, mais que atender
uma cota diária de doentes,
a medicina preventiva exige
atenção à saúde.
Quem são os
responsáveis?
Quem são os responsáveis
pelo fim da exigência
de médicos sanitaristas chefiando
cada Centro de Saúde
e programando as ações
preventivas na sua comunidade?
E pelo desmonte das
ações preventivas descentralizadas,
colocando a
prevenção nas mãos de burocratas
que realizam campanhas
nacionais que só
respondem adequadamente
em casos específicos como
a poliomielite?
E pela gestão de produtividade
que transformou a
atividade de saúde numa linha
de produção de atendimento
a doentes?
E pelo equívoco de sucessivos
governos em achar que
saúde pública é atividade
econômica e, como tal, deve
dar lucro, ser auto-sustentável,
enxuta, terceirizada, setorizada,
especializada, desumanizada
e privatizada?
Lembremo-nos de Oswaldo
Cruz e de muitos outros sanitaristas,
cujas lutas e vitórias
se perderam no tempo por
falta de memória e, principalmente,
falta de inteligência de
muitos dos governantes.
Departamento de Saúde do Trabalhador e Meio Ambiente