Depois da crise montadoras entram em processo de recuperação
Crescimento no mercado brasileiro e recuperação da economia americana ajudam a impulsionar a industria automotiva mundial
Após passar por uma das piores crises de sua história, a indústria automotiva mundial parece rumar agora para uma recuperação e pelo menos alguns anos de saudável crescimento no lucro.
Nas últimas semanas, a Ford Motor Co, a Honda Motor Co., a Daimler AG e a Volkswagen AG anunciaram previsões de alta significativa no lucro deste ano. Várias outras, como a Nissan Motor Co., a General Motors Co. e a Toyota Motors Corp., devem apresentar previsões otimistas e melhora nos resultados.
Por trás do crescimento que se avizinha estão o aumento das vendas e os cortes de custos que muitas montadoras fizeram durante a retração. No primeiro trimestre, a Mercedes, da Daimler, ganhou 2.613 euros (US$ 3.327) para cada veículo que produziu, em comparação com uma perda de 5.389 euros um ano antes. A Volks ganhou 439 por veículo, ante 249 euros um ano antes.
A Ford, que se reestruturou mais rapidamente que a GM, evitando uma recuperação judicial, anunciou no mês passado um lucro de US$ 2,1 bilhões no primeiro trimestre, e informou que terá “lucro sólido” no resto do ano. A Ford conseguiu obter lucro operacional de US$ 2.265 para cada carro fabricado na América do Norte, uma reviravolta substancial em relação ao primeiro trimestre de 2008, quando perdeu US$ 65 por veículo. Mundialmente, a Ford teve um lucro operacional de US$ 923 para cada carro fabricado no primeiro trimestre, ante US$ 514 há dois anos.
Até a Chrysler Group LLC, que enfrentou um declínio brutal das vendas desde seu pedido de concordata, divulgou lucro operacional de US$ 143 milhões no primeiro trimestre e manteve sua promessa de sair do vermelho este ano. Ontem, seu diretor-presidente, Sergio Marchionne, disse que pode aumentar as previsões de desempenho financeiro da empresa. “Está claro que se continuarmos a ter desempenho nesse ritmo vamos superar a previsão que fizemos em 2009”, disse.
Na Ford, as demissões, reduções de benefícios dos trabalhadores e a eliminação de marcas e modelos deficitários baixaram os custos. Ao mesmo tempo, o faturamento da empresa está subindo por causa das vendas, preços mais altos e menos incentivos para as vendas.
A GM pode lucrar este ano pela primeira vez desde 2004, depois de ter se desfeito de bilhões em obrigações e obtido concessões sindicais no ano passado, durante sua recuperação judicial, orquestrada pelo governo americano. A montadora projeta custos fixos de US$ 23,2 bilhões em 2010 – US$ 7,6 bilhões abaixo de 2008. Como a concordata eliminou quase toda sua dívida, as despesas com juros caíram US$ 1 bilhão por ano, de acordo com os informes da empresa. A transferência de despesas de saúde para um fundo do sindicato e outras mudanças nos benefícios de aposentadoria produziram economias de outros US$ 3 bilhões por ano.
A recuperação da economia americana e a continuidade do crescimento em mercados como China e Brasil estão melhorando o quadro da receita. No quarto trimestre, a receita mundial da GM foi US$ 1,5 bilhão mais alto do que em igual período de 2009, e os números do primeiro trimestre deste ano devem ser ainda melhores.
O diretor-presidente da GM, Ed Whitacre, prevê que os resultados do primeiro trimestre serão impressionantes. Rod Lache, analista do Deutsche Bank, diz que a GM reduziu os custos fixos na América do Norte de US$ 40 bilhões em 2008 para US$ 20 bilhões atualmente, e também aumentou os preços de seus veículos, o que propicia margens melhores. “A visão que tem predominado para nós é que o setor passou por uma mudança estrutural histórica”, diz. “Teremos melhor lucratividade por um tempo.”
Muitas montadoras conseguem agora lucrar mesmo com as vendas a níveis relativamente baixos em mercados importantes, acrescenta Lache. Nos Estados Unidos, o setor parece destinado a vender 11,5 milhões de veículos leves em 2010, ante 16 milhões a 17 milhões em meados da década. A GM informou que pode lucrar se as vendas totais de automóveis nos EUA chegarem a 10,5 milhões, uma mudança dramática em relação aos anos anteriores, quando a empresa dava prejuízo mesmo quando as vendas de autos nos EUA passavam de 15 milhões.
“Se estamos lucrando neste nível baixo [de vendas nos EUA], daqui para a frente só pode subir”, diz Lache.
O cenário otimista também inspira alguma cautela. A recuperação econômica dos EUA está nos estágios iniciais e ainda pode sair dos trilhos, ao mesmo tempo em que uma alta nas commodities pode corroer o lucro das empresas. A concorrência já começou a pressionar as montadoras a aumentar os incentivos, o que pode diminuir os lucros.
Os analistas acreditam que a melhoria geral na economia americana vai impulsionar as vendas durante alguns anos, possivelmente de volta para algo em torno de 14 milhões de carros de passeio e picapes por ano em 2011. Mas a indústria automotiva também pode contar com mais do que a aceleração do mercado americano. As vendas de automóveis continuam subindo rapidamente na China, na Índia e na América do Sul.
A Europa continua a motivar preocupações porque as vendas em vários mercados importantes, como a Alemanha, devem estagnar este ano à medida que os governos eliminam os incentivos para os motoristas aposentarem modelos velhos.