Desempregado da região tem estudo
O Grande ABC possui atualmente 150 mil desempregados. Desses, 53,8% são mulheres, 64,9% se declaram como não negros (brancos, pardos e japoneses) e 62% possuem o Ensino Médio completo ou mais. Os dados integram a Pesquisa de Emprego e Desemprego do Seade/Dieese referente ao mês de junho.
A informação que mais chama a atenção no perfil de quem está à procura de uma oportunidade é a escolaridade, que é alta. Porém, nem sempre foi assim. O mesmo levantamento mostra que, uma década atrás, em junho de 2001, o percentual de quem possuía pelo menos o Ensino Médio era de 32,4%, quase a metade.
O que pode explicar essa mudança é a própria exigência do mercado de trabalho. Se há 10 anos uma faculdade era garantia de emprego, hoje é apenas um requisito básico, e o que faz o diferencial é a continuidade na capacitação, como pós-graduação e MBA. Nem mais a fluência no inglês é considerada desejável, mas obrigatória para muitas funções. Com isso, nem todo mundo que possui nível Superior foi absorvido pelas empresas, e passou a compor a estatística dos desempregados.
“Co a exigência maior das empresas, como a necessidade do Fundamental completo ou Ensino Médio até mesmo para funções que não teriam essa necessidade, muita gente deixou de se apresentar ao mercado de trabalho, caso dos analfabetos, que não conseguem competir”, explica o gerente de pesquisas do Seade, Alexandre Loloian.
As oportunidades de emprego voltadas para quem possui menor escolaridade, como porteiro, caixa e atendente de lanchonete, por exemplo, requerem formação mínima, mesmo sem a necessidade para a execução da tarefa.
Na avaliação da diretora executiva da consultoria Ricardo Xavier Recursos Humanos, Sônia Helena Garcia, isso acontece tanto por conta do avanço da tecnologia, que põe as pessoas em contato com máquinas modernas – caso de uma caixa de supermercado, que também tem de lidar com a evolução de uma registradora – , como pela exigência cada vez maior do próprio consumidor e da concorrência exacerbada. “Um simples traquejo com o cliente pode fazer toda a diferença, além de agilizar o atendimento”, afirma. “Quanto mais a pessoa se qualifica, maior a segurança em lidar com seu trabalho e melhor o relacionamento com quem está ao seu redor.”
Analisando sob outra ótica, pelo perfil das pessoas empregadas no Grande ABC, nota-se que de 10 anos para cá foi ampliada a participação de quem possui Ensino Médio completo ou mais de 42% do total de ocupados para 62,8%. Da mesma maneira, caiu de 33,5% para 20% o total de trabalhadores com o Fundamental incompleto. São os indícios dos novos – e mais exigentes – tempos.
No Grande ABC, 15,5% terminaram o Ensino Superior
Das 1,829 milhão de pessoas com 18 anos ou mais que moram na região, 15,5% ou 283.515 possuem Ensino Superior completo. Desse montante, 247.235 estão em Santo André, São Bernardo e São Caetano. Esses dados compõem levantamento da USCS (Universidade Municipal de São Caetano).
De acordo com Leandro Prearo, coordenador do Instituto de Pesquisa Socioeconômica da USCS, o percentual é elevado. “Considerando apenas Santo André, São Bernardo e São Caetano, o total de pessoas com Ensino Superior completo saltou de 13,9% em 2002 para 22,2% no ano passado”, ressalta. “Esse crescimento foi impulsionado também por programas do governo, como o ProUni e o Fies.”
A indústria da região demanda uma qualificação que só a faculdade não traz, diz Prearo. É o caso das empresas de metalmecânico, que têm inclusive dificuldade de contratar profissionais diferenciados, como engenheiros que tenham alguma especialização.
Na avaliação da diretora executiva da consultoria Ricardo Xavier Recursos Humanos, Sônia Helena Garcia, há uma década a vida profissional ainda era mais previsível, o oposto do que ocorre hoje. “Não se pode parar de investir em sua capacitação, senão seu conhecimento fica obsoleto e se perde oportunidades de trabalho.”
Com o crescimento da exigência no mercado de trabalho quanto mais experiência e qualificação tiver, mais se pode barganhar, conclui Sonia.
Do Diário do Grande ABC