Desemprego recorde na Europa pressiona governos

A Europa registra um índice recorde de desemprego e a crise social pressiona governos a reavaliarem suas políticas de austeridade, abrindo o debate sobre a necessidade de políticas de crescimento.

A taxa inédita de desemprego é divulgada simultaneamente à constatação de que a contração na indústria europeia é a mais forte em quase 3 anos e às vésperas das eleições na França e na Grécia, onde a maioria dos eleitores promete punir partidos no poder e indica que, no lugar da austeridade, querem políticas de crescimento. Até a Alemanha dá os primeiros sinais de sofrer com a crise.

Em março, 10,9% da população dos 17 países que usam a moeda comum estava sem trabalho, taxa puxada pela crise na Espanha. O índice se iguala a abril de 1997 – que era o mais alto desde o início da série em 1995 – levando as bolsas europeias a fecharem em forte queda. No total, mais de 17,4 milhões de pessoas estão desempregados no bloco, um terço deles na Espanha. Contabilizando todos os 27 países da UE, o desemprego chega a mais de 24,4 milhões de pessoas, 10,4%.

Em apenas um ano, a Europa eliminou 2,1 milhão de empregos e 5,4 mil pessoas foram demitidas a cada dia. Em apenas três meses, quase 500 mil postos de trabalho desapareceram, um marco que vai na direção oposta ao que se registra nos Estados Unidos, com a redução do desemprego. Em abril, a criação de postos de trabalho na economia americana chegou a 119 mil.

Na Europa, o que parecia ser o auge da crise em março de 2011 provou ser apenas mais uma etapa. Naquele mês, a taxa de desemprego era de 9,9%. Mas, nos últimos meses, a indústria voltou a sentir os efeitos da crise. Em abril, o setor manufatureiro na zona do euro atingiu seu ponto mais baixo em 34 meses, segundo dados da Markit. Esse foi o nono mês consecutivo de contração da indústria europeia.

Recessão
Só em março, 169 mil europeus foram demitidos, em parte por conta da decisão de governos de reduzirem de forma drástica investimentos, salários e pensões. Na zona do euro, quase metade das economias já estão oficialmente em recessão, entre elas Espanha, Holanda, Portugal, Itália e Grécia. Se não bastasse, mais da metade dos jovens na Espanha e na Grécia estão sem trabalho.

Diante de uma taxa recorde de desemprego, a Europa é tomada por um debate sobre o caminho que está tomando para resolver sua crise. Para muitos, a estratégia de austeridade foi uma imposição equivocada da Alemanha, que hoje passa a ser questionada. “Os dados de março vão incentivar o debate que deveria ter ocorrido sobre um pacto de crescimento”, afirmou Martin van Vliet, do banco ING.

Nas salas de reuniões de Bruxelas, os embates entre crescimento e austeridade já são claros. Mas será nas urnas neste fim de semana que a insatisfação popular promete ser revelada. Nicolas Sarkozy, que apoiou a Alemanha em ditar as regras para a Europa, pode perder o poder diante de um rival que promete justamente um pacote de crescimento e rever a estratégia da UE.

Na Grécia, os tradicionais partidos não devem conseguir a maioria nas eleições para governar, e partidos periféricos e que são vistos como “fora do sistema” podem ser as maiores surpresas. Em sua agenda, a contestação das exigências da Alemanha. “Com o potencial de mudança nos líderes da região, aliado ao fato de que quase metade da zona do euro está em recessão, a estratégia de austeridade está sendo seriamente desafiada”declarou Gary Jenkins, diretor da Swordfish Research.

Duas Europas
Os dados do desemprego revelam a existência de duas Europas. Uma delas – a do Sul – em plena crise. Na Espanha, um a cada quatro trabalhadores está desempregado, Na Grécia, que foi salva em duas ocasiões, o índice chega a 21,7%. A Itália atingiu o maior nível de desemprego em 12 anos, com 9,8%. De outro lado, a Áustria apresenta uma taxa de meros 4% da população sem trabalho. Na Holanda, o índice é de 5%.

Mesmo a Alemanha dá sinais de fragilidade, para a surpresa dos mercados. Dados divulgados ontem também em Berlim mostraram que o desemprego aumentou em 19 mil, a segunda alta em 25 meses. Angela Merkel usava justamente o fato de que o desemprego caía na Alemanha como uma prova de que a austeridade da resultados.

“Essa é uma surpresa negativa”, alertou o Postbank. “A fragilidade econômica está cobrando seu preço finalmente na Alemanha. Estamos entrando na faz da estagnação”, declarou.

Do Estadão