Desigualdade social na Espanha é 30% maior em 7 anos
Indices sociais alarmantes continuam a se proliferar na Espanha, país que, além de estar em meio a uma profunda crise econômica, vem adotando severas e impopulares medidas de austeridade. Nesta quarta-feira (20/03), a organização católica Cáritas informou que houve um aumento da desigualdade social entre os espanhóis, pois a diferença entre as rendas mais altas e as mais baixas cresceu 30% desde 2006.
Segundo a Cáritas, contando a partir dessa data, a renda dos mais pobres caiu cerca de 5% em termos reais a cada ano, fazendo com que atualmente os mais ricos ganhem sete vezes mais que essa camada população.
Trata-se de um dos indicadores de desigualdade “mais altos” da União Europeia, afirma a organização, que alertou para o risco de “fragmentação social” na Espanha. “As consequências da crise estão sendo especialmente sangrentas para os mais pobres”, disse o secretário-geral da Cáritas, Sebastián Mora.
O documento apresentado nesta quarta-feira também fez uma radiografia da pobreza na Espanha. Segundo o coordenador da equipe de estudos da Cáritas, Francisco Lorenzo, citando dados do INE (Instituto Nacional de Estatísticas) do país de 2011, 26,8% dos espanhóis vivem em situação de pobreza ou exclusão social, sendo 21,8% em uma pobreza “relativa” e 6,4% “severa”.
Ainda mais grave: 41% das famílias com três filhos vive abaixo da linha da pobreza e 16% dessas em pobreza “severa”. Lorenzo explicou que a queda da renda dos lares espanhóis fez com que a linha da pobreza caísse de oito mil euros para somente uma pessoa, em 2009, para 7,3 mil em 2012, em claro indicativo do “empobrecimento médio da socidade”, disse.
No entanto, ainda mais alarmantes são os dados relativos à pobreza severa. O número de lares sem renda alguma passou de 300 mil em 2007 para 630 mil em 2012 e a porcentagem de lares que não têm capacidade para enfrentar gastos imprevistos passou de 30% para 44,5%.
O informe da Cáritas chega a falar em “década perdida”, ao analisar a queda da renda per capita do espanhol. Conforme disse Lorenzo, os cidadãos do país receberam em média 18,5 mil euros ao mês em 2012, número inferior em termos de poder aquisitivo a 2001. Desde 2007, a renda média caiu 4%, enquanto os preços aumentaram 10%.
Trabalho
Para a Cáritas, os números relacionados ao mercado de trabalho mostram os “piores resultados da etapa democrática” na Espanha. Em 2012, foi registrada uma taxa de desemprego de 26%, duas vezes e meia mais alta que a média da União Europeia e dez pontos superior a de Portugal e Irlanda, outras vítimas da crise econômica. Destaque para a taxa de desocupação entre os menores de 25 anos: impressionantes 55% dos jovens espanhóis não encontram trabalho.
O desemprego entre chefes de família passou de 6 para 21,4% em 2012 e a porcentagem de lares onde nenhum membro trabalha passou de 2,5% para 10,6% — mais de 1.800.000. “Se há cinco anos liderávamos entre os europeus em geração de emprego, hoje trabalhar não é mais um direito, mas um privilégio”, lamentou o coordenador da equipe de estudos da Cáritas.