Dia especial para os trabalhadores na Mercedes

Todos os 1500 companheiros que estavam com os contratos suspensos (lay-off) pela fábrica desde o ano passado retornam ao trabalho


Trabalhadores entram na fábrica. Foto: Paulo de Souza / SMABC

Em sua primeira assembleia do ano, realizada na manhã desta segunda-feira (28) no pátio da Mercedes-Benz, em São Bernardo, todos os 1500 companheiros que estavam com os contratos suspensos (lay-off) pela fábrica desde o ano passado comemoraram seu retorno ao trabalho.

“É um dia muito especial para o conjunto dos trabalhadores na Mercedes e vai entrar para nossa história”, destacou o diretor de Organização do Sindicato e membro do CSE na montadora, Moisés Selerges. “E essa vitória não teria sido possível sem a participação da companheirada em todas as etapas desse movimento”, prosseguiu.

Moisés aproveitou para relembrar a trajetória de luta em busca da manutenção dos empregos na montadora durante os oito meses de afastamento.

“Sei que foram dias difíceis, que vocês sofreram muito nesses oito meses em que ficaram afastados de seus postos de trabalho, mas esse Sindicato foi teimoso e ousado na batalha pela preservação de seus empregos”, afirmou.

Avaliação
Falando a seguir, Valter Sanches, diretor de Comunicação do Sindicato e também membro do CSE, lembrou que todas as ações realizadas pelos representantes, com o apoio dos trabalhadores, desde que a crise no setor de caminhões começou no início de 2012, foram positivas.

“O retorno dos companheiros ao trabalho significa que o Sindicato acertou na avaliação e na estratégia adotadas”, analisou o dirigente.

“Além da negociação do lay-off com a empresa, a entidade negociou com o governo federal para facilitar e ampliar o crédito para a compra de caminhões, entre outras medidas para estimular o mercado e, consequentemente, retomar a produção”, frisou Sanches. 

Ano atípico
O acordo de lay-off para 1.500 trabalhadores na Mercedes foi assinado entre o Sindicato e a empresa no dia 29 de maio de 2012, na Sede, em São Bernardo.

Pelo documento, os companheiros afastados re­ceberam 100% de seus salários líquidos por cinco meses – depois prorrogados por mais cinco meses – e se dedicaram a sofisticados cursos de formação profissio­nal com, no mínimo, 300 horas de duração.

A crise no segmento de caminhões começou no final de 2011, quando os grandes frotistas anteciparam as compras que fariam apenas no ano seguinte. Eles alegaram que tomavam a medida porque em 2012 os veículos seriam vendidos com novo motor, menos poluente, mas que elevaria deixaria os preços dos produtos.

O resultado dessa operação foram vendas muito mais altas que a média em 2011, mas uma queda profunda da comercialização no ano seguinte, que chegou a atingir 50% da produção.

Antes que a direção da Mercedes começasse a falar em demissões, trabalhadores e Sindicato iniciaram o movimento que culminou com a vitória desta segunda-feira.


Moisés fala durante a assembleia. Foto: Paulo de Souza / SMABC

Futuro da planta estará em debate este ano
As novas demandas para o mercado de caminhões e ônibus e o aumento da competitividade no setor com a chegada de novas marcas ao Brasil, exigem que a os trabalhadores estejam preparados para enfrentar o debate sobre o futuro da planta da Mercedes-Benz em São Bernardo.

A perspectiva entre os dirigentes sindicais na montadora é manter a tradição dos Metalúrgicos do ABC e alcançar resultados que garantam o futuro de uma fábrica modernizada na cidade.

As representações dos trabalhadores na Volks e na Ford, por exemplo, enfrentaram desafios parecidos e negociaram acordos de longo prazo para sustentabilidade das empresas e garantias dos postos de trabalho.

Aproveitar o momento
“Negociar em um cenário de reaquecimento do mercado é bem melhor e por isso, precisamos aproveitar esse momento para conversar com a empresa”, afirmou o coordenador do CSE, Aroaldo Oliveira da Silva.

Dados da Fenabrave, associação que representa os vendedores de veículos, apontam que a média diária de licenciamento de caminhões já cresceu 31%.

Organização foi fundamental para a conquista
O modelo de organização, com repre­sentação no local de trabalho, foi fundamental para identificar o cenário de crise bem cedo.

Desta maneira, o Sindicato – em con­junto com os trabalhadores – pode buscar caminhos para impedir que as dificuldades enfrentadas pelo setor de caminhões atin­gissem o maior bem da companheirada, que é o emprego. Relembre como foi essa luta.

19 de março
Com as fortes quedas nas vendas de caminhões, a Mercedes-Benz anuncia férias coletivas de 10 dias para abril.

25 de março
Trabalhadores lotam o auditório da Sede para debater sistema de proteção ao emprego.

29 de maio
Após negociação, Sindicato fecha acordo com a Mercedes que evita a demissão imediata de 1.500 trabalhadores.

3 de setembro
Cerca de 7 mil trabalhadores definem os parâmetros de negociação com a empresa.

11 de setembro
Assinado acordo que garante empregos na montadora até 31 de janeiro de 2013.

7 de novembro
Empresa demite por telegrama 484 trabalhadores contratados por prazo determinado. Imediatamente os metalúrgicos das áreas de câmbio, ônibus e CKD cruzam os braços em solidariedade aos companheiros.

8 de novembro
1.200 se reúnem em defesa do emprego em frente ao Centro Celso Daniel e decidem intensificar a luta para que a empresa reveja a decisão de demitir 484 trabalhadores com contratos temporários na Mercedes.

12 de novembro
Luta dos trabalhadores garante prorrogação dos contratos temporários até 31 de março de 2013.

3 de dezembro
Anunciado o retorno à fábrica de 250 trabalhadores que estavam em lay-off.

17 de dezembro
Outro anúncio feito pelo Sindicato e empresa estabelece o prazo de 28 de janeiro de 2013 para o retorno ao trabalho de todos os 1.500 afastados. A reativação do segundo turno da fábrica a partir de 1° de fevereiro também é anunciado.

3 de janeiro
Companheiros começam a voltar ao trabalho na Mercedes.

28 de janeiro
Todos os 1.500 metalúrgicos com contrato suspenso (lay-off) regressam à fábrica, após receberem telegrama da Mercedes chamando-os para retornarem a seus postos de trabalho.


Depoimentos
“Quando o Moisés falou para rasgar o telegrama porque o acordo tinha sido prorrogado, eu contei para minhas filhas, nos abraçamos e choramos”, Jesué Manoel Filho, 41 anos, da logística. 

“Nunca vou esquecer esse dia, mas aproveitei e fiz o curso de torno CNC para poder passar esse tempo mais tranquilo”, Amanda Assolant, 23 anos, do almoxarifado.

“O Sindicato sempre teve uma visão mais avançada do processo e o pessoal do CSE sempre nos deu esperanças, o que e nos fazia sentir protegidos.”, Daniel Silva dos Anjos, 28 anos, da logística.

“É maravilhoso voltar. Tive muita dificuldade para dormir nessa noite tamanha era a ansiedade com que eu esperava essa assembleia”, Fábio José dos Santos, 34 anos, da logística. 

“O emprego é a coisa mais importante para o trabalhador. Por isso, espero que nossa luta sirva de exemplo a outras empresas”, Thiago do Nascimento, 28 anos, da montagem de motores. 

“Essa era a notícia que todos estávamos esperando. Agora vamos fazer a nossa parte para fazer justiça ao que o Sindicato batalhou”, André Dantas Vieira, 36 anos, operador logístico.  

Da Redação