Dieese confirma: trabalhador não pode pagar pela crise
Crescimento dos últimos anos tem que ser contabilizado agora para manter empregos e salários
Os economistas e técnicos do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) Sérgio Mendonça e Ademir Figueiredo são categóricos “as empresas ganharam muito nos últimos anos, têm condições de manter empregos e salários nesses primeiros meses do ano.”
Os dois participaram na segunda (19) da reunião entre representantes de sindicatos de todo o Brasil, ligados à Central Única dos Trabalhadores (CUT), para traçar um diagnóstico da crise e definir propostas para o enfrentamento dos problemas.
“Se ganhou muito, por que não manter a massa salarial?”, questionou Sérgio Mendonça, ao citar as empresas do setor automotivo, que estão anunciando demissões, mas bateram recordes de vendas em 2008. “É preciso ter transparência na divulgação das contas das empresas.” Para o economista, os problemas reais da indústria podem ser estancados com crédito e redução expressiva de impostos, acompanhados de contrapartidas sociais.
“A aliança contra os juros altos é uma oportunidade histórica de os trabalhadores irem para cima desse País de rentistas. Chance de trazer juros para patamares reais”, afirmou Mendonça, que sugere a criação de frentes de trabalho para a criação de empregos. “A queda da Selic pode significar economia na dívida púbica, dinheiro que pode ser investido.” Cada ponto percentual a menos na Selic significa economia de R$ 15 bilhões, de acordo com Sérgio Mendonça.
Corretores – “Banco no Brasil é corretor de título público”, disparou o economista Ademir Figueiredo, questionando a eficiência da redução do compulsório para instituições financeiras. “Quanto mais dinheiro tem, mais dinheiro coloca nos ganhos que estão garantidos nas aplicações dos títulos públicos.”
Para Ademir, se os bancos não emprestam e falta crédito, as empresas vão pra cima dos trabalhadores, explicando o saldo negativo de quase 655 mil empregos divulgados nesta segunda, pelo Ministério do Trabalho. A indústria metalúrgica e o estado de São Paulo são os mais afetados. “Esse setor tem uma produtividade acumulada de 19,5%. As empresas querem esquecer isso e projetar o futuro a partir desse buraco da crise, o que pode ser oportunidade para alguns”, diz o economista. E alerta: “a crise tem que ser discutida a partir de cada caso”.
Ademir lembra que a massa salarial no Brasil hoje é 74% maior que em 2003. “Foi esse momento que levou esperança à sociedade e isso não pode ser perdido.”
Do Bancários de SP