Diferença salarial é o maior preconceito
Didice Godinho Delgado (foto) é assistente social, assessora no tema relações de gênero e de projetos de formação sindical. Trabalhou em nosso Sindicato em meados dos anos 80, quando a Comissão de Mulheres foi criada. Ela comandará a oficina E elas vieram para ficar: as mulheres no mundo do trabalho na tarde do dia 26 de março, durante o 2º Congresso.
O que mudou no mundo do trabalho para a mulher desde a criação da Comissão de Mulheres?
A presença feminina no mercado de trabalho assalariado é irreversível. O salário não é mais complementar. Os dois salários – do homem e da mulher – são importantes nas famílias, e mais de 20% delas são chefiadas por mulheres. Embora mais integradas ao mercado do trabalho, mudou pouco para as mulheres o fato de serem as maiores responsáveis pelo trabalho doméstico e o cuidado com os filhos.
Essa inserção da mulher no mercado de trabalho representa autonomia ou exploração de mão de obra mais barata?
A autonomia econômica – não ser dependente de um homem – é uma conquista. Sem ela é difícil ter poder de decisão sobre a própria vida. Já a exploração do trabalho feminino pelo capital é, junto com a exploração do trabalho masculino, a base do sistema capitalista.
Entre os preconceitos e diferenças que as mulheres enfrentam no trabalho, qual o mais grave?
A discrepância salarial entre homens e mulheres é o mais escandaloso. Se baseia em ideias estereotipadas sobre o que pode e o que não pode, o que deve e o que não deve fazer cada sexo e não em uma avaliação de desempenho ou qualificações. Nisso também se encaixa o bloqueio ao acesso das mulheres a cargos de decisão.
Como criar uma cultura sindical feminina num universo sindical masculinizado?
Não se trata de criar uma cultura sindical feminina, mas uma cultura de igualdade de oportunidades e de tratamento entre os sexos, em que ambos tenham o mesmo valor. As mulheres são sempre vistas como minoria e não como parte do mundo do trabalho e sindical, mesmo em categorias onde são maioria. No entanto, uma só mulher seria suficiente para que qualquer sindicato tivesse uma política permanente e consistente de luta contra as discriminações de gênero e por igualdade de direitos entre homens e mulheres, inclusive dentro do sindicato.