Dignidade para o portador de hanseníase

As pessoas atingidas pela hanseníase, e que foram submetidas a internação obrigatória nos hospitais-colônias, passarão a ter uma pensão especial. Concedida pelo governo federal, a pensão visa integrar essas pessoas à sociedade.

Governo garante pensão a ex-internos

O governo federal concedeu pensão especial às pessoas atingidas pela hanseníase e que foram submetidas a internação obrigatória nos hospitais-colônias, os chamados leprosários.

A medida foi anunciada no início deste mês em solenidade no Palácio do Planalto e contou com a presença do Movimento de Reintegração das Pessoas Atingidas pela Hanseníase (Morhan), entidade que luta para acabar com a doença e também com o preconceito que a acompanha.

A solenidade contou com depoimentos emocionados, de pessoas retiradas da família ainda crianças. “Quando recebia a visita dos meus pais, eles não podiam tocar nas minhas mãos porque sempre havia uma barreira de vidro”, contou José Arimatéia Costa.

Cristiano Gomes disse que nasceu num hospital colônia, pois os pais tinham hanseníase, e foi discriminado a vida inteira. “Fui até preso por casar sem autorização dos médicos”, disse.

Atualmente existem cerca de 3.000 pessoas que foram forçadas a se isolar. A maior parte perdeu a capacidade de ter uma vida normal. Cada um vai receber pensão vitalícia de dois salários mínimos.

Dos 101 leprosários construídos no Brasil ainda existem 33, que abrigam antigos pacientes. São pessoas sem vínculos sociais ou familiares e também aqueles que, mesmo curados, continuam tratando as sequelas.

“Acerto de uma dívida social histórica”

O sapateiro Reinaldo Matos Carvalho é um dos contemplados com a pensão vitalícia. Nascido em Manaus, ele viveu 17 anos em hospitais-colônias, onde aprendeu a profissão. Hoje, trabalha na sapataria ortopédica de São Bernardo, fazendo sapatos e botas sob medida para os sequelados pela hanseníase.

O que significa a decisão do governo federal?

O governo Lula foi o único que se interessou pelo resgate da dignidade daqueles que foram obrigados a se isolar da sociedade. A pensão é o acerto de uma dívida histórica. A pensão vai ajudar os ex-internos a terem uma vida melhor.

Você se surpreendeu com essa decisão do governo?

Não, pois Lula, a partir de 1988, passou a visitar as colônias assumindo compromisso com a nossa luta. Ele foi inclusive amigo de Bacurau, que organizou o Morhan e foi seu primeiro presidente.

Quando você descobriu a doença?

Em 1969, quando tinha 17 anos. Imediatamente me internei na colônia Antonio Aleixo, lá em Manaus, que na época contava com cerca de 3.000 pacientes. Era uma verdadeira cidade.

A doença mudou sua expectativa de vida?

Mudou toda minha vida. Cheguei a ter preconceito de mim mesmo.

O sistema na colônia era muito rígido e fiquei com uma impressão muito ruim. Os internos mostravam suas deformações e diziam que eu ficaria igual.

Quanto tempo ficou lá?

Até 1976. Como eu tinha apenas um dedo torto, o Frei Jaime me convenceu que deveria enfrentar a sociedade e me arrumou trabalho de jardineiro em um convento. Lá, aprendi que era um cidadão, uma pessoa normal que poderia trabalhar e estudar. Em 1980 fui para a colônia Souza Araújo, em Rio Branco, no Acre.

E depois?

Com o Morham j&aacute