Dilma defende na ONU o combate às causas da crise mundial
Foto: Roberto Stuckert Filho/PR
Ao discursar na abertura da 66ª Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU) nesta quarta-feira (21), em Nova York, a presidenta Dilma Rousseff disse aos representantes das nações unidas que a crise global é ao mesmo tempo econômica, de governança e de coordenação política. Dilma também deixou clara a posição brasileira de defender o reconhecimento do Estado palestino.
Foi a primeira vez que uma mulher abriu oficialmente os trabalhos da Assembleia Geral. “Divido esta emoção com mais da metade dos seres humanos deste Planeta, que, como eu, nasceram mulher, e que, com tenacidade, estão ocupando o lugar que merecem no mundo. Tenho certeza, senhoras e senhores, de que este será o século das mulheres.”
Ao falar sobre a crise financeira internacional, a presidenta destacou que o mundo vive um momento extremamente delicado e, ao mesmo tempo, uma grande oportunidade histórica. “Enfrentamos uma crise econômica que, se não debelada, pode se transformar em uma grave ruptura política e social. Uma ruptura sem precedentes, capaz de provocar sérios desequilíbrios na convivência entre as pessoas e as nações.”
Para o enfrentamento dessa grave situação, a presidenta avalia que é preciso combater as causas, não mais apenas os efeitos e, se a situação não for contida, “pode se transformar em uma ruptura sem precedentes”, disse referindo-se ao crescimento das tensões sociais dentro dos países, em especial no continente europeu.
Para Dilma,o destino do mundo está nas mãos de todos os seus governantes. “Ou nos unimos todos e saímos, juntos, vencedores ou sairemos todos derrotados. Não haverá retomada da confiança e do crescimento enquanto não se intensificarem os esforços de coordenação entre os países integrantes da ONU e das demais instituições multilaterais como o G20, o Fundo Monetário Internacional e o Banco Mundial.”
Dilma disse ainda que o Brasil está apto a ajudar os países em desenvolvimento e que é preciso lutar contra o desemprego no mundo. Ela garante que o país pode ajudar as nações necessitas em matéria de segurança alimentar, tecnologia agrícola, geração de energia limpa e renovável e no combate à pobreza e à fome.
“Está claro que a prioridade da economia mundial, neste momento, deve ser solucionar o problema dos países em crise de dívida soberana e reverter o presente quadro recessivo. Os países mais desenvolvidos precisam praticar políticas coordenadas de estímulo às economias extremamente debilitadas pela crise. Os países emergentes podem ajudar.”
O Brasil já vai fazendo a sua parte, diz ela. “Com sacrifício, mas com discernimento, mantemos os gastos do governo sob rigoroso controle, a ponto de gerar vultoso superávit nas contas públicas, sem que isso comprometa o êxito das políticas sociais, nem nosso ritmo de investimento e de crescimento.”
Para Dilma, é urgente a necessidade de aprofundar a regulamentação do sistema financeiro. “É preciso impor controles à guerra cambial, com a adoção de regimes de câmbio flutuante.”
Dilma mencionou também os conflitos no mundo árabe. Sobre a “Primavera Árabe”, nome dado à sucessão de manifestações populares, a presidenta disse que o Brasil se solidariza com a busca de um ideal que não pertence a nenhuma cultura, porque é universal: a liberdade. “É preciso que as nações aqui reunidas encontrem uma forma legítima e eficaz de ajudar as sociedades que clamam por reforma, sem retirar de seus cidadãos a condução do processo.”
A presidenta foi muito aplaudida em seu discurso quando defendeu o estado palestino, que não tem representação na ONU. “Assim como a maioria dos países nesta Assembleia, acreditamos que é chegado o momento de termos a Palestina aqui representada a pleno título.Venho de um país onde descendentes de árabes e judeus são compatriotas e convivem em harmonia, como deve ser”, disse.
Ela destacou que o reconhecimento ao direito legítimo do povo palestino à soberania e à autodeterminação amplia as possibilidades de uma paz duradoura no Oriente Médio. “Apenas uma Palestina livre e soberana poderá atender aos legítimos anseios de Israel por paz com seus vizinhos, segurança em suas fronteiras e estabilidade política em seu entorno regional.”
A respeito das questões ambientais, Dilma explicou que o Brasil defende um acordo global, de combate à mudança do clima. “Apresentamos uma proposta concreta, voluntária e significativa de redução [de emissões], durante a Cúpula de Copenhague, em 2009. Esperamos poder avançar já na reunião de Durban, apoiando os países em desenvolvimento nos seus esforços de redução de emissões e garantindo que os países desenvolvidos cumprirão suas obrigações, com novas metas no Protocolo de Quioto, para além de 2012.”
Dilma encerrou seu discurso dando muita ênfase ao novo papel da mulher e cumprimentou o secretário-geral Ban Ki-moon “pela prioridade que tem conferido às mulheres em sua gestão à frente das Nações Unidas”.
Da Rede Brasil Atual