Dilma volta a cobrar plebiscito para reforma política

Dilma enalteceu os avanços dos últimos dez anos, mas admitiu que são insuficientes

Presidenta afirma que mudanças no sistema eleitoral responderiam às exigências das ruas por melhor representação e menos corrupção: ´Nenhum manifestante pediu volta ao passado´

A presidenta Dilma Rousseff voltou a defender hoje (17) um plebiscito para a reforma do sistema político brasileiro, mas não fez qualquer menção à resistência do Congresso – inclusive da base aliada do governo – em realizar uma consulta popular antes das eleições de 2014. Na semana passada, os líderes partidários, que desde o começo vinham se opondo a aceitar mudanças plebiscitárias, enterraram as expectativas do Planalto.

“A reforma é importante porque trata de valores que queremos ver implantados na vida pública e no processo de representatividade”, argumentou, durante reunião do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (CDES) em Brasília. “Melhorar melhorar o nível da representação e a atividade política e dotá-la de mais transparência são as respostas mais evidentes que podemos dar ao país neste momento. Os cartazes não pediam plebiscito, mas uma variante disso: mais ética, mais democracia, mais oportunidade para o povo ser ouvido. Isso tudo passa por uma reforma política.”

Dilma fez uma longa referência aos protestos de junho, e reforçou a ideia de que a ânsia dos brasileiros por mais e melhores serviços públicos, notadamente em saúde e educação, é uma consequência natural das conquistas sociais obtidas pelo país nos últimos dez anos. “Quando temos um grande contingente de pessoas com melhores condições de vida, mais acesso à informação e mais consciência de seus direitos, vemos surgir cidadãos com novas vontades e exigências”, explicou, emendando um recado às ambições eleitorais do PSDB: “Ninguém nesse último mês de manifestações pediu a volta ao passado. Pediram, sim, o avanço para um futuro de mais direitos, mais democracia e mais conquistas sociais.”

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“Agora somos cobrados a fazer mais e temos que fazer mais”, continuou. “Democracia gera desejo de mais democracia, inclusão provoca cobrança de mais inclusão. Qualidade de vida desperta anseio por mais qualidade de vida. Sempre mais. Para nós, os avanços conquistados até agora são só o começo.” Por isso, a presidenta valorizou o desempenho da economia nos últimos anos, sobretudo depois da crise internacional, iniciada nos Estados Unidos em 2008. “Num mundo que desemprega, criamos quase 20 milhões de empregos com carteira assinada. Num mundo onde os países se endividaram e o déficit público chegou a níveis extraordinários, construímos controle da inflação e robustez fiscal.”

Dilma garantiu que não descuidará das contas públicas para atender a voz das ruas. Por isso é que, lembrou, estabeleceu a estabilidade fiscal entre os cinco pactos lançados pelo governo em resposta aos protestos, no final de junho. “Isso limita qualquer tentação de populismo fiscal e estabelece com clareza muito necessária o principio de que só podemos gastar aquilo que temos para gastar.” Minutos antes, a presidenta havia se dedicado a rebater críticas à economia. E lançou mão de uma série de dados estatísticos para embasar seus argumentos.

“A divida líquida do setor público foi de 34,8% do PIB. Em 2002, era de 60,4%, quase o dobro. O déficit da Previdência está em 1% do PIB, um dos menores do mundo. As despesas do governo, em 4,2% do PIB, uma das menores nos últimos dez anos. As despesas com pagamento dos juro são de 4,6% do PIB, ou seja, 40% menores do que antigamente”, enumerou, criticando o pessimismo e a má-fé dos críticos. “Os números reais, se analisados com isenção, mostram que é incorreto falar em descontrole da inflação ou das despesas do governo. É desrespeito aos dados, à lógica. A informação parcial confunde a opinião pública e cria ambiente de pessimismo que não interessa a nenhum de nós.”

Da Rede Brasil Atual