“É cedo para desativar políticas de estímulo”, diz Mantega

Em entrevista exclusiva à BBC, ministro da Fazenda diz que é preciso manter medidas para consolidar crescimento

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse que é muito cedo para que as políticas de estímulo à economia adotadas por diversos países em meio à crise mundial sejam desativadas.

“É claro que cada país terá o seu ritmo e os seus problemas para resolver. Mas não é ainda o tempo certo para sinalizarmos uma desativação das políticas de estímulo. Nós devemos continuar de modo a consolidar o crescimento”, disse Mantega na segunda-feira (21), em entrevista exclusiva ao correspondente da BBC no Brasil, Gary Duffy.

“Não podemos dar a mensagem para os mercados de que nós vamos começar a nos preocupar com a dívida pública, com o déficit. Alguns países podem se precipitar e anunciar a elevação da taxa de juros. Tudo isso seria nesse momento improdutivo”, disse o ministro, às vésperas da reunião de cúpula do G20, que começa nesta quinta-feira em Pittsburgh, nos Estados Unidos.

No encontro, chefes de Estado dos países que compõem o grupo das 20 principais economias do planeta (entre elas o Brasil) deverão discutir uma estratégia de saída para reduzir os programas de socorro ao mercado adotados a partir de setembro de 2008, quando a crise se acentuou.

Regulamentação

Também estará na pauta do encontro uma nova regulamentação do sistema financeiro internacional.

“Nós sabemos que uma das principais causas dessa crise foi a falta de regulação dos mercados financeiros. Portanto, não podemos deixar isto passar e permitir que os mercados financeiros criem uma nova crise. É o momento de fazer uma mudança nas regras de regulação”, afirmou Mantega.

Segundo o ministro, é preciso diminuir os “exageros” feitos durante a crise. “Nós temos que exigir mais capital dos bancos, os bancos não podem se meter em aventuras financiando atividades não-sustentáveis. Nós não podemos permitir que sejam pagos bônus para as diretorias através simplesmente do desempenho”, disse.

O ministro afirmou que os bancos deveriam ser submetidos anualmente a um teste de estresse, como foi feito pelos Estados Unidos, para avaliar a necessidade de aumento de capital.

Também disse que seria necessário um registro das operações de derivativos em escala internacional, “de modo que a gente saiba quem está com risco e quem está sem risco”.

Emergentes

Mantega disse que, quase um ano após a reunião do G20 em Washington (em novembro de 2008), no encontro desta semana alguns líderes vão falar “que é hora de tornar o G20 uma instituição permanente”.

De acordo o ministro, os países emergentes vêm sendo tratados com mais respeito pelas nações avançadas e participam mais ativamente das decisões.

“Os Brics (Brasil, Rússia, Índia e China) se reúnem regularmente, nós já somos um grupo de influência muito forte, e nós somos os principais responsáveis pela retomada do crescimento mundial. Acredito que esta situação vai se consolidar”, disse.

FMI e Banco Mundial

No entanto, segundo Mantega, é preciso que os países emergentes tenham não apenas palavra no G20, mas direito a voto de fato.

O ministro voltou a falar sobre a necessidade de reforma no Fundo Monetário Internacional (FMI) e no Banco Mundial, “para que de fato sejam instituições multilaterais que tenham o poder de atuar nas crises e que sejam respaldadas por legitimidade”.

“Nós temos que ser seduzidos a participar, a colocar mais dinheiro, a ter uma atuação conjunta, desde que nós tenhamos o direito a voto que têm hoje os países avançados”, disse.

“Estamos propondo que rapidamente se faça uma reforma no FMI, transferindo 7% da participação acionária dos países avançados, principalmente os países europeus, que não têm o mesmo peso econômico que tinham no passado, de modo que os países emergentes possam ter um peso maior nas decisões desses organismos”, afirmou.

O ministro disse que já há consenso sobre a necessidade de reforma nesses organismos e que a discussão é sobre o percentual que caberá aos países emergentes.

Da BBC