“É preciso colocar a fábrica em ordem”, diz Rafael

Presidente do Sindicato, Rafael Marques e os trabalhadores decidem paralisar a produção

Os trabalhadores na Karmann Ghia, em São Bernardo, para­lisaram a produção na manhã de ontem e conquistaram o compromisso da empresa de pagar as rescisões de contrato dos demitidos, após negociação com o Sindicato.

“Sabemos que a situação é difícil, porque chegamos a um impasse”, disse o presidente do Sindicato, Rafael Marques, durante assembleia na fábrica.

“Se paramos a produção, a autopeças não faz caixa e se não faz caixa não paga os trabalhadores. Por outro lado, se os companheiros voltam ao trabalho correm o risco de não receberem”, completou. (Saiba mais abaixo)

Segundo o presidente, a decisão de parar a produção teve o objetivo de tentar acertar os pagamentos reivindicados pelos trabalhadores na ativa e pelos que foram demitidos no início do mês.

A mobilização foi fundamental para que o Sindicato conseguis­se chegar a uma proposta que atendesse às expectativas dos metalúrgicos, após três horas de reunião com representantes da empresa.

“Não queremos prejudicar a Karmann Ghia, mas é preciso colocar a fábrica em ordem”, afirmou.

“O Sindicato sempre estará do lado dos companheiros, na defesa dos direitos da categoria”, enfatizou.

Rafael explicou aos traba­lhadores, durante a assembleia, as ações que os Metalúrgicos do ABC vêm realizando para estimular o setor.

“No ano passado, conquista­mos duas importantes medidas junto ao governo federal para as autopeças e ferrametarias”, relembrou.

“Uma delas complementa o novo Regime Automotivo, o Inovar-Auto, com a garantia de que as montadoras ampliem a utilização de peças nacionais, de 45% para 60% e que isso pos­sa ser rastreado”, comemorou.

Para ele, outro fator de in­centivo às autopeças é a pos­sibilidade das montadoras declararem os gastos com fer­ramentaria em até 1,5% de seu faturamento.

“A nova portaria, assinada em dezembro, reconhece os investimentos em ferramen­taria como pesquisa e desen­volvimento e isso é um ganho surpreendente para a área”, destacou.

O presidente alertou os trabalhadores sobre o mercado interno e externo e suas impli­cações nos empregos do Brasil.

“O que está acontecendo é que as montadoras estão tentando salvar a produção doméstica em seus países de origem e trazendo peças pro­duzidas na Alemanha e nos Es­tados Unidos, o que aumentou muito as importações de peças para o setor”, disse.

“Precisamos rever isso, apro­veitar o câmbio do dólar favo­rável à produção brasileira e essas medidas para que o País exporte mais do que importe”, concluiu.

Situação na Karmann Ghia se agravou há um ano

As dificuldades que os trabalhadores na Karmann Ghia, em São Bernardo, estão vivendo foram se agravando no último ano.

Para o coordenador de São Bernardo, Nelsi Rodrigues, o Morcegão (foto), além de a empresa ter trocado de comando várias vezes, o fim da linha da Kombi e do Gol G4 impactaram na produção da autopeças.

“O encerramento do contrato com a Volks foi sentido pela empresa, que não se preparou para substituir o produto que estava deixando de fabricar”, lembrou o dirigente.

Segundo Morcegão, alternativas como o layoff foram adotadas, já em março de 2014, em defesa do emprego na Karmann Ghia.

“A queda nas vendas do setor automotivo também atingiram a empresa, que começou a atrasar os pagamentos”, contou.

“Desde então, estamos cobrando a autopeças a honrar seus compromissos com os trabalhadores”, destacou.

O dirigente afirmou que apesar de todas as medidas tomadas, no início do mês aconteceram 135 demissões.

“O compromisso do Sindicato sempre foi a manutenção dos empregos e, na sua impossibilidade, garantir o pagamento dos direitos da rescisão de contrato”, defendeu.

“A proposta que negociamos com a empresa é o que o pessoal no chão de fábrica estava reivindicando e por isso foi aprovada”, concluiu Morcegão.

 

Da Redação