Economia nacional já superou pior momento, diz Ipea
"A crise abre uma série de possibilidades e devemos caminhar no sentido de desonerar bens de consumo e rever alíquotas do Imposto de Renda para aqueles que tem maior capacidade de pagamento", defendeu o economista João Sicsú
Avaliações sobre a estratégia no enfrentamento da crise econômica no País marcaram o debate, ontem, na comissão especial prevista para formular propostas ao Poder Executivo. O diretor de Estudos Macroeconômicos do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), João Sicsú, considera que a economia nacional já superou o pior momento e está em fase de recuperação. O presidente da organização não-governamental Instituto Desemprego Zero, José Carlos de Assis, no entanto, disse que a crise ainda não foi adequadamente equacionada, mas destacou que ela foi causada por um modelo neoliberal que não tem mais espaço para retornar.
Segundo João Sicsú, a superação da crise financeira internacional no Brasil passa fundamentalmente pela redução do spread bancário (diferença entre o custo de captação do banco e os recursos que empresta a terceiros); pela continuidade de desoneração de impostos e pela adoção de alíquotas para grandes fortunas no Imposto de Renda. “A crise abre uma série de possibilidades e devemos caminhar no sentido de desonerar bens de consumo e rever alíquotas do Imposto de Renda para aqueles que tem maior capacidade de pagamento”, defendeu.
Sicsú afirmou ainda que a atual crise refletiu a falta da presença do Estado na economia norte-americana e não é restrita, na origem, aos empréstimos subprime (sem garantias) realizados pelo mercado imobiliário dos EUA. No Brasil, disse, a crise tem impacto direto no nível de confiança na economia por parte de empresários e trabalhadores. “Os empresários atrasaram projetos de investimentos e os trabalhadores frearam o consumo. É preciso quebrar esse ciclo”, disse.
Para o diretor do Ipea, a economia do Brasil já atingiu o fundo do poço e agora apresenta redução gradual da taxa de desocupação; retomada do emprego com carteira assinada; e retomada da produção de setores como construção civil, veículos e agropecuária. A indústria, no entanto, continua com sinal negativo. “As medidas adotadas pelo governo para enfrentar a crise foram acertadas e têm dado resultado”, disse.
Na avaliação de José Carlos de Assis, o cenário brasileiro ainda apresenta três características que comprometem o enfrentamento da crise. “Há contração monetária, porque os juros ainda são altos, contração no comércio exterior e também contração fiscal, já que, ainda que menor, ainda existe superávit primário (economia feita por União, estados e municípios para o pagamento da dívida)”, afirmou.
O relator da comissão especial, deputado Pedro Eugênio (PT-PE), avaliou que o debate trouxe dados objetivos que apontam a tendência de recuperação da economia nacional, mas alertou “que é preciso ter calma”. “A produtividade está crescendo, a venda de veículos também e há retomada do varejo. A ocupação é maior no início de 2009 do que em 2008. José Carlos avalia que os dados não são suficientes, mas, ao mesmo tempo, ele pede que o governo gaste mais e não adote um discurso neoliberal. Ele defende a geração de emprego e obras públicas e isso é interessante”, disse.
Do Ipea