Economistas preveem juros de um digito até o final de 2013
O juro de um dígito veio para ficar e o mercado brasileiro vai ter que aprender a conviver com essa novidade no cardápio da política monetária. E aqui não se trata da margem que supera a inflação, mas da taxa básica, a Selic nominal, que passará pelo crivo do Comitê de Política Monetária (Copom) na próxima semana.
Essa avaliação não implica descarte de eventual retomada de ciclos de elevação da Selic. Embora todos os sinais emitidos pelo governo nas últimas semanas indiquem intenção de manter os juros estáveis em 2013, grande número de economistas acredita que o Banco Central deveria promover um aperto monetário a partir da metade do próximo ano, com a inflação pressionada e a economia acelerando.
Mas nada indica que a economia brasileira comportará altas agressivas de juros, a menos que precise reagir a um choque no custo do dinheiro especialmente nos Estados Unidos. Considerando que a economia americana navega desde 2008 em inédita oferta monetária e com taxa próxima de zero – nível que deve persistir até 2015 -, a possibilidade de um choque contagiar o Brasil parece pequeno.
Nem mesmo a expectativa de inflação doméstica pressionada, resistente acima de 5%, incentiva o mercado a contar com alta expressiva da Selic a médio prazo. O Copom poderá puxar a taxa básica, sim, entre o segundo semestre de 2013 e o primeiro trimestre de 2014. Mas, na mais extrema hipótese considerada por economistas, a Selic avançaria 1,5 ponto percentual e chegaria aos 9%. De um lado, entendem os economistas, o governo, ainda que tendo a intenção de estimular a atividade, aprendeu a driblar pressões inflacionárias com desonerações setoriais. De outro, tanto o BC quanto a Fazenda aprenderam a fazer bom uso de medidas macroprudenciais como ação complementar à taxa de juro.
A divisão de opiniões explícita na curva de juros é reproduzida na pesquisa feita pelo Valor Data com 34 economistas. Desse elenco, 25 contam com manutenção da Selic nos atuais 7,50% ao ano na semana que vem e 9 esperam redução de 0,25 ponto percentual, para 7,25%. Esse placar, com uma exceção, vale para o encerramento de 2012. Apenas a MB Associados projeta Selic a 7% em dezembro deste ano e até dezembro do ano que vem. Para o final de 2013, 18 analistas contemplam elevação da taxa que pode chegar, no máximo, a 9%, e 15 profissionais trabalham com manutenção do nível alcançado no fim deste ano.
“O Banco Central pode fixar a Selic nominal, mas não a taxa real. Selic de um dígito é fruto da mesma dinâmica: a queda de potencial de crescimento da economia brasileira como de outras grandes economias”, comenta Tony Volpon. O estrategista da Nomura Securities diz que a principal função da “taxa neutra” é expressar o rendimento médio do estoque de capital real [das economias]. O governo “comemora” a queda da Selic, mas essa queda é sintoma de um novo equilíbrio, com crescimento econômico menor, inflação maior e câmbio mais fraco.
Marcelo Kfoury, economista-chefe do Citibank Brasil, que não vê espaço para corte da Selic na semana que vem por enxergar a economia em firme recuperação, vê elevação do juro no último trimestre de 2013, mas sem que chegue a dois dígitos. “Pode até acontecer, mas só quando as políticas monetárias estiverem normalizadas nas grandes economias. Além disso, considerando que o juro neutro ou de equilíbrio ronda 4% e a inflação, 5,5%, Selic nominal de 9,5% estaria de bom tamanho e por um bom tempo”, pondera.
Os modelos econométricos aplicados por Cristiano Oliveira, economista-chefe do Banco Fibra, mostram que parcela do atual recuo da taxa real de juros veio para ficar – é estrutural. “O BC aproveitou a perspectiva de taxa de juros em patamar baixo no âmbito global por um período prolongado e, acertadamente, reduziu a Selic para patamar abaixo da “taxa neutra de longo prazo”. Essa taxa real de juros excepcionalmente baixa pode perdurar por mais alguns anos, dependendo em grande parte do comportamento do hiato do produto global [quanto a economia global pode crescer sem pressionar a inflação]. Nossa visão é que a parcela estrutural da queda do juro real de longo prazo no país é suficiente para garantir que a Selic de um dígito veio para ficar.”
Do Valor Econômico