Educação Profissional: qualificação X competência
Nos anos 90, enquanto perdurou o projeto neoliberal da era Collor-FHC, houve uma profunda modificação industrial, o mercado de trabalho foi desestruturado, aprofun-dando-se o desemprego e a precari-zação do trabalho. Visando moldar as relações de trabalho à dinâmica do mercado, inúmeras medidas foram tomadas no sentido de flexi-bilizar a legislação trabalhista. No lastro desse processo, a culpa pelo desemprego passou a ser do próprio trabalhador, ao seu baixo nível de escolaridade e à sua qualificação técnica precária.
Empregabilidade virou termo da moda. Tem sido entendida como capacidade do trabalhador aproveitar diferentes oportunidades de aperfeiçoamento profissional e, assim, ampliar as chances de se vincular ao mercado de trabalho. A mesma coisa aconteceu com o conceito de competência que passou a ser cada vez mais utilizado no lugar de qualificação profissional.
Não se trata de palavras diferentes para a mesma coisa. O conceito de qualificação foi construído em contextos históricos (países europeus, Estados Unidos e Canadá, a título de exemplo) em que a correlação de forças permitiu aos trabalhadores, através do instrumento da contratação coletiva, definir a relação entre formação profissional, carreira e remuneração. A competência, entendida como performance, como desempenho (verificável) em situação de trabalho, ao ser adotada pelas empresas, tende substituir a noção de qualificação. Traz junto a eliminação de antigos perfis profissionais ligados aos postos de trabalho (e direitos a eles associados), substituindo-os por outros, baseados na polivalên-cia. Ao provocar uma crescente individualização das relações de trabalho, o novo conceito serve para moldar o trabalhador à organização flexível do trabalho, favorecendo a apropriação, por parte da empresa, do seu saber tácito. Cria também condições para que esse mesmo trabalhador se envolva com as iniciativas de colaboração propostas pela empresa.
Departamento de Formação