Educar para o futuro
“Não são as instituições que estão corroídas por dentro. É o próprio conceito de humanidade”. A afirmação é de Leonardo Boff, um teólogo que você conhece por seus ideais libertários. Você também sabe que não há por onde abordar a situação nacional e internacional sem desembocar num processo acelerado de desumanização. E não é preciso nenhuma teoria para perceber esta realidade. Basta você olhar ao lado e ver o semblante da exclusão que cerca os semáforos. Onde foi parar a solidariedade entre os homens?
Sem resposta, você vai para casa e continua assistindo à cores o desfile de mazelas que vê na tv e lê nos jornais. Esta semana, no entanto, o ABC tem uma oportunidade impar de refletir um pouco sobre tudo isto. De 29 de novembro a 5 de dezembro, coordenada pela vereadora Ivete Garcia, e apoiada pela Prefeitura Municipal e várias outras entidades, está ocorrendo a 1ª Conferência Municipal de Cidadania e Direitos Humanos de Santo André.
Uma oportunidade ímpar para você sair um pouco das abordagens acadêmicas sobre a saúde da economia, a reforma tributária, o desemprego e enxergar um pouco mais fundo os prejuízos que o desgoverno deste País vem provocando à cidadania. Precisamos reconstruir este País. E, isto, não significará apenas encontrar soluções para os impasses da economia. Será preciso mais: será preciso reconstruir a dignidade das pessoas, a condição humana destes milhares de cidadãos e cidadãs que perambulam pelas ruas sem alternativa de emprego, de moradia e de vida.
E como conseguir tudo isto? Num seminário paralelo, realizado na quarta, a Central de Trabalho e Renda (mantida pela CUT, com apoio do FAT e da Prefeitura de Santo André) discutiu alternativas para a crise econômica na região. Tive oportunidade de dividir uma mesa coordenada pelo jornalista Gilberto Dimenstein com Horácio Lafer Piva, presidente da Fiesp, Celso Daniel, prefeito de Santo André e Valtenice Araújo, coordenador da Central.
O jornalista Gilberto Dimenstein defende que a solução para os problemas nacionais vai nascer da educação. A partir deste princípio, Dimenstein provocou um diálogo entre trabalhadores e empresários cujos desdobramentos poderão tornar-se muito importantes para o Brasil. No debate, firmou-se o compromisso de constuir um Conselho, composto por trabalhadores e empresários, com o objetivo de acompanhar e fiscalizar todo o processo de educação sustentado pelo Estado. Nós vamos procurar outras entidades, representações dos professores, inclusive, para levar adiante esta proposta.
O leitor conhece minhas idéias sobre o papel da educação. E não é preciso lembrar minha origem de trabalhador do campo para justificar o quanto eu valorizo os processos de aprendizado na condição humana. Sabe das propostas da CUT em torno de formação e educação dos trabalhadores (projetos Integrar, Alquimia), preocupações que justificam inclusive colocar o Sindicato que presido na coordenação do Mova Regional, programa de alfabetização de adultos incluído entre os protocolos regionais organizados pela Câmara Regional do ABC.
Compreendo que educação é fundamental, embora não deva ser colocada como razão única e exclusiva para recuperar a condição de cidadania do homem. Ela não implica somente em dar formação técnica, profissional e humana para o cidadão e cidadã. Até porque nós só vamos conseguir reconstruir a capacidade de absorção do trabalhador ao mercado de trabalho a partir da formulação de um novo projeto de desenvolvimento para o Brasil.
Este entendimento é fundamental para abordar a questão da educação e da formação profissional, sob pena de responsabilizarmos o trabalhador e a trabalhadora pela sua exclusão do mercado de trabalho. Na verdade, temos de aproveitar estas oportunidades e lutar por novos instrumentos de formação e educação públicas para que os excluídos recuperem sua dignidade, entendam os mecanismos que produzem hoje o desemprego e a precarização do trabalho, se organizem e tra