Eldorado dos Carajás : 10 anos de impunidade

Dia 17 de abril de 1996. Cidade de Eldorado dos Carajás, no Pará. Operação da
Polícia Militar mata 19 trabalhadores rurais sem terra e deixa 69 feridos para
acabar com bloqueio de rodovia.

Dez anos depois, 144 policiais incriminados foram absolvidos e apenas dois
comandantes condenados. Nenhum deles está preso. Página 3

Nenhum dos culpados está preso

O massacre de Eldorado dos Carajás, que matou 19 sem-terra e deixou 69
feridos, completou dez anos sem que nenhum dos culpados esteja preso.

Uma ação violenta da Polícia Militar quis interromper uma marcha do MST que
se dirigia à Marabá para exigir a desapropriação da fazenda Macaxeira, que hoje
abriga o Assentamento 17 de Abril.

Dos 144 militares indiciados, os dois únicos condenados – o coronel Mário
Pantoja, condenado a 228 anos, e o major José Maria de Oliveira, condenado a 154
anos de prisão – estão em liberdade por decisão do Superior Tribunal Federal
(STF) no final de 2005, depois de pouco menos de um ano de cadeia. Ambos
aguardam em liberdade o resultado do recurso apresentado ao Superior Tribunal da
Justiça.

Os responsáveis políticos pelo massacre, o governador Almir Gabriel (PSDB) e
o secretário de Segurança Pública, Paulo Sette Câmara, não foram indiciados.
Para relembrar o massacre, desde 1º de abril o MST organizou no local, a Curva
do S na PA-150, um acampamento com cerca de 2 mil jovens de vários Estados que,
além de atividades culturais e de formação, estão promovendo manifestações
diárias contra a impunidade

Ação deixou mutilados e sequelados

Mesmo tendo sido assentados posteriormente na área da fazenda, grande parte
dos 69 trabalhadores que foram vítimas da PM ainda sofre com graves problemas de
saúde. Muitos continuam com balas alojadas no corpo, vários não conseguem
trabalhar em função das mutilações e, segundo os trabalhadores rurais e os
advogados do MST, o Estado não tem prestado o atendimento médico acordado
legalmente com o movimento. “Falar do massacre e não falar dos mutilados é não
falar do massacre. Aconteceu o massacre, mas ficamos aqui um monte de mutilados,
viúvas… Ninguém procurou saber de nada… Começamos a nos arrastar pela
vida”.

O depoimento é de Antônio Alves de Oliveira, o Índio, de 46 anos, um dos
coordenadores do grupo de mutilados do Assentamento 17 de Abril. Ele levou tiros
no calcanhar, joelho e perna, e ainda está com duas balas alojadas na
cabeça.

O descaso do governo estadual com estas pessoas não é diferente do tratamento
dado às viúvas e órfãos das vítimas fatais do massacre. Até hoje eles aguardam
as indenizações.

Uma das treze viúvas, Maria Alice de Souza, de 42 anos, que perdeu o marido
Joaquim Pereira Veras, morto com dois tiros no peito, até hoje não entende quem
provocou o massacre e por quê. “Não sei. Quem fez foi a polícia, governo,
fazendeiro…ninguém gosta de sem-terra “, explica.

Hoje Maria Alice e outras conquistaram suas terras, mas algumas se encontram
sem condições de trabalhar devido à idade e as dificuldades que se agravam ano
após ano. (Com informações  da Agência Notícias do Planalto).

Vannuchi pede punições

No ato realizado para  lembrar a impunidade pelo massacre, o ministro
dos Direitos Humanos, Paulo Vannuchi, defendeu a punição de quem ordenou a ação
a PM. “Que vá para a cadeia não apenas os oficiais condenados, mas também seus
subordinados. E que vá para a cadeia não apenas os oficiais mas também os
comandantes desses oficiais”, afirmou o ministro.

O MST realizou atos em 17 estados na última segunda-feira e, para Vannuchi, o
movimento é mal compreendido. “Ele tem um compromisso com as leis e com as
regras da democracia. O movimento evita o que ocorre em outros países, como uma
guerra civil”, finalizou.