Eleição do papa: Balde de água fria nos progressistas
Mais de 300 mil pessoas participaram, no domingo, da missa em que o alemão Joseph Ratzinger assumiu o lugar de João Paulo 2º como papa. Ele escolheu o nome de Bento 16, que significa abençoado por Deus. Famoso por suas posições contrárias a qualquer mudança nos procedimentos da Igreja Católica, a escolha de Ratzinger não agradou os setores mais progressistas do catolicismo brasileiro.
“Não era o que eu esperava. Torcia por um perfil menos conservador”, disse d. Paulo Evaristo Arns, ex-cardeal arcebispo de São Paulo. Para a socióloga Dulce Xavier, do grupo Católicas Pelo Direito de Decidir, a escolha caiu como um balde água fria nos movimentos favoráveis ao planejamento familiar e a outros temas rejeitados pelos setores conservadores da igreja.
Sua preocupação é que o novo papa contribua para o fortalecimento da articulação entre os setores conservadores da sociedade e, dessa forma, estimule movimentos que prejudiquem a maior parte da população.
Como exemplo, ela lembra que a ONU defende o planejamento familiar e o controle da fertilidade das mulheres como forma eficaz de combate à mortalidade feminina. Mas, como a Igreja Católica é contra, tem se articulado com outros setores conservadores para que a ONU volte atrás nessas decisões. “Nessas questões o Vaticano se articula com Bush”, alerta.
Com razão. Ontem mesmo o governo dos EUA manifestou posição contrária às pílulas do dia seguinte cujo uso, de acordo com a Organização Mundial de Saúde, evitaria a morte de 70 mil mulheres por ano, vítimas de métodos agressivos de interrupção da gravidez. “Este posicionamento conservador pode prejudicar políticas públicas de prevenção no mundo inteiro”, afirma.