Eletricitários denunciam desmonte com privatização

Apagões em São Paulo na semana passada são resultado da falta de investimentos.

Falta de manutenção e de investimento dá apagão

A cidade de São Paulo
passou por dois apagões na
semana passada. A primeira
foi devido a uma explosão
na subestação Bandeirante
da Cteep, que deixou quase
3 milhões de pessoas sem
energia. Na segunda, um
cabo partido deixou quatro
bairros no escuro.

Não foram só o congestionamento
– ocasionado
pela falta de semáforos – e a
paralisação de algumas estações
do Metrô que mexeram
com a cabeça das mais
de três milhões de pessoas
atingidas, mas a lembrança
do período entre 2001 e
2002, quando o país vivia
um racionamento de energia
e o medo de novos apagões
voltaram a incomodar.

Para Wilson Marques,
presidente do Sinergia CUT,
que representa os trabalhadores
da área no interior de
São Paulo, a privatização
da companhia, realizada no
ano passado, é responsável
por incidentes como os da
semana passada.

“Não há mais manutenção
preventiva. Se a pane
fosse numa subestação
maior, que seja interligadora,
como a de Bauru ou Santa
Bárbara do Oeste, poderíamos
ter um apagão de proporção
maior”, disse.

Apagão de mão-de-obra – O presidente do Sindicato
dos Eletricitários de
São Paulo, Antonio Carlos
dos Reis, o Salim, alerta para
a falta de preocupação com
o atendimento dos novos
donos da energia em São
Paulo.

“Cresce a demanda por
energia, mas não há investimento
em infra-estrutura
para suportar isso. A Cteep,
privatizada pelo governo
Serra, reduziu o quadro
de trabalhadores de 3.200
para os 1.200 de hoje. Nas
subestações não há quase
ninguém trabalhando”, denuncia.

CESP corre o mesmo risco

Outra preocupação dos
sindicalistas é a privatização
da Cesp, que administra três
das maiores usinas do Brasil,
Ilha Solteira, Jupiá e Sérgio
Motta, todas no rio Paraná.
O leilão da companhia está
marcado para o dia 26 de
março.

“Além de o Estado
perder uma indutora do desenvolvimento,
deve ocorrer
um aumento no preço
das tarifas”, prevê Marques.
Ambos os sindicatos assinaram
um acordo com a Cesp
que garante aos trabalhadores
três anos de estabilidades
após a privatização.

“Mesmo com essa garantia,
a empresa deve demitir
antes do prazo e pagar
uma multa para reduzir o
quadro. Aí poderemos ter
problemas também na geração
de energia”, analisa Salim.
Ele ainda completa. “Somos
contra a privatização de todo
o setor elétrico, pois ele
é estratégico para o país. As
empresas privatizadas visam
sobretudo o lucro”.