Em agosto, indústria mostra mais acúmulo de estoques
Duas pesquisas sobre a situação da indústria em agosto corroboraram o quadro negativo para o segmento, indicando que o terceiro trimestre será desapontador. A Sondagem da Fundação Getulio Vargas (FGV) mostrou a oitava queda seguida da confiança dos empresários, a acumulação de estoques e o recuo do nível de capacidade instalada. Já o Índice Gerente de Compras (PMI, na sigla em inglês) do HSBC caiu de 47,8 em julho para 46 pontos em agosto, feito o ajuste sazonal, ficando pelo terceiro mês seguido abaixo de 50, o que aponta contração da atividade industrial. É o menor nível desde abril de 2009.
Em agosto, o Índice de Confiança da Indústria da FGV recuou 2,2%, para 102,7 pontos, na série livre de influências sazonais, o que levou o indicador para o menor nível desde agosto de 2009. O tombo foi influenciado especialmente pela maior insatisfação com o momento atual, com uma piora significativa dos estoques. A parcela das empresas que considera o nível de inventários como excessivo avançou de 6,6% em julho para 9,5% em agosto, o maior percentual desde julho de 2009. Ao mesmo tempo, a proporção de empresas que o avaliam como insuficiente diminuiu de 2,2% para 1,5%, a menor desde fevereiro de 2009.
Com estoques acima do planejado, as perspectivas para a produção nos próximos meses são pouco animadoras, porque as empresas vão dar prioridade à desova desses inventários. Os setores com pior situação de estoques são os de vestuário, calçados e têxteis, alguns dos que mais apanham da concorrência importada. Para completar, o nível de utilização de capacidade instalada caiu de 84,1% em julho para 83,6% em agosto, feito o ajuste sazonal. É o mais baixo desde novembro de 2009.
“A indústria está num período de desaceleração. Há acúmulo de estoques em várias empresas, o nível de utilização da capacidade instalada está baixo e o cenário internacional, desfavorável”, diz o superintendente de Ciclos Econômicos da FGV, Aloisio Campelo, que acredita num crescimento de 1,5% a 2% para a indústria neste ano.
O PMI do HSBC também aponta para um quadro ruim para a indústria em agosto. “Com a queda do indicador liderada pelos componentes de produção e novas encomendas, o PMI sugere que a desaceleração do setor industrial está ganhando corpo, e em nossa visão, aumentam os riscos de que outros setores da economia acabem sendo contaminados por esta queda na atividade”, escreveu, em relatório, o economista-chefe do HSBC, André Loes.
O índice de novos pedidos recuou de 45,9 em julho para 43,2 pontos em agosto. “Quase um quinto dos entrevistados relatou um nível menor de novos pedidos durante o período mais recente da pesquisa, atribuindo o declínio à fraca demanda mundial.” Além disso, várias empresas citaram também “fortes pressões competitivas”.
O PMI tenta funcionar como um termômetro da atividade da indústria. Ele se baseia numa pesquisa mensal feita com executivos de cerca de 400 empresas, que respondem sobre itens como produção, encomendas, emprego, pedidos de exportação, estoques e preços de bens finais e de insumos.
Do Valor Econômico