Em ato unificado em solidariedade aos trabalhadores na Ford, centrais cobram governo
"Temos que transformar isso num debate nacional sobre desindustrialização", Wagnão
Representantes das centrais e dirigentes sindicais de diversas categorias se reuniram na manhã de ontem em um ato, em frente a uma concessionária da Ford, na Av. Ricardo Jafet, em São Paulo, para prestar solidariedade aos trabalhadores e cobrar atitudes do governo Bolsonaro no momento em que o Brasil passa por um intenso processo de desindustrialização.
Os manifestantes fecharam um trecho da avenida, interrompendo parte do trânsito por alguns instantes para alertar a população sobre os impactos gerados pela decisão da montadora de deixar o país.
O presidente dos Metalúrgicos do ABC, Wagner Santana, o Wagnão, relembrou o drama vivido pela categoria em 2019, quando a Ford anunciou o fechamento da planta de São Bernardo, denunciou a falta de política industrial e cobrou ressarcimento dos benefícios utilizados durante anos pela montadora.
“Uma empresa com mais de 100 anos se utilizando dos recursos dos Estado, recursos do bolso de cada um de nós, dinheiro de imposto e do sacrifício do trabalhador. Eles têm que ressarcir o Estado, temos que lutar para que eles fiquem, mas se não ficarem, precisam ressarcir o povo brasileiro em tudo que sugaram aqui. Temos que transformar isso num debate nacional sobre desindustrialização”, reforçou.
O coordenador do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto), ex-candidato à prefeitura de São Paulo e à presidência da República, Guilherme Boulos, que também participou da atividade para prestar solidariedade aos trabalhadores, criticou a falta de atitude do governo.
“Logo a Ford que recebeu bilhões de incentivos fiscais e agora vira as costas para o país. Ela só faz isso porque não tem governo no Brasil, porque se tivesse, o governo chegaria pra Ford e diria ‘Você quer estar no mercado brasileiro? Então você vai produzir e gerar emprego aqui, senão vamos dificultar o processo de importação dos carros que você vai produzir em plantas lá fora e querem vender aqui’”.
“Não temos governo, não temos política industrial, não temos política de tecnologia, ciência e inovação e é por isso que os empregos mais qualificados estão indo embora. O projeto deles é fazer do Brasil uma fazenda da China, da Europa, dos EUA, só produzir soja e milho para exportar lá pra fora e aqui dentro ainda com inflação alta no preço dos alimentos. É o momento de lutarmos com muita responsabilidade, não promovendo a expansão do vírus. Os trabalhadores na Ford podem contar com a gente, porque a luta de todos os trabalhadores por emprego é também a nossa luta”, finalizou.
O vice-presidente da CUT, Vagner Freitas, propôs algumas medidas. “Estamos propondo que esse governo ajude a resolver a situação da Ford, porque é papel do governo. Quando a General Motors quebrou nos EUA, o presidente Obama nacionalizou a GM nos EUA, tornou patrimônio do povo americano até se construir uma solução. Estamos aqui exigindo que Bolsonaro não faça nada diferente do que já foi feito, nacionalize seus maquinários e que estabeleça uma solução para manutenção da produção”.
“Nossa primeira proposta é que seja uma cooperativa de trabalhadores na Ford que podem continuar produzindo e mantendo seus empregos, existem outras soluções que o governo tem que intermediar, como a venda do terreno e das máquinas, manutenção dos empregos para uma outra montadora. E por que não o Brasil ter a produção de um carro nacional para dar emprego para esse povo que tanto precisa? A palavra de ordem que nos unifica é Fora, Bolsonaro! Impeachment já!”, clamou.
Atos pelo Brasil
Em Taubaté (SP) e Camaçari (BA) também foram realizados atos em defesa dos empregos. Em Taubaté a atividade ocorreu em frente à concessionária Econorte.
Em Camaçari, a assembleia reuniu parlamentares, lideranças sindicais e de movimentos sociais no complexo industrial da cidade, onde fica a planta da Ford. Lá o Sindicato está atuando em três frentes de luta, junto ao governo, à fábrica e à justiça e diz que não vai parar enquanto não reestabelecer os empregos.
No Rio Grande do Sul, na cidade de Canoas, também houve um ato simbólico em solidariedade aos trabalhadores demitidos pela montadora.
No mundo
O IG Metall, sindicato dos metalúrgicos na Alemanha, promoveu um ato de solidariedade aos trabalhadores brasileiros. A manifestação foi realizada na fábrica da Ford na cidade de Colônia.