Em caminhada, trabalhadores denunciam oportunismo da Kostal

Manifestação passou pelas ruas no entorno da empresa para chamar atenção sobre os impactos da decisão de fechamento e a luta pela reversão da medida.

Foto: Adonis Guerra

Diante do desrespeito com os trabalhadores e da falta de avanço nas negociações, os trabalhadores na Kostal saíram em passeata na manhã de hoje pelas ruas da Pauliceia, em São Bernardo, pela manutenção da empresa na cidade e em defesa dos 300 empregos.

Companheiros de diversas fábricas da base dos Metalúrgicos do ABC prestaram solidariedade e se uniram à luta. Foram tomados os cuidados de higiene e limpeza, com uso de máscaras e álcool gel durante todo o percurso e alertas sobre a importância do distanciamento entre os trabalhadores.

A fábrica, de matriz alemã, comunicou ao Sindicato a decisão de fechamento da planta no fim de semana e, desde segunda-feira, os trabalhadores estão mobilizados na luta. Nova assembleia está marcada amanhã, às 7h, para encaminhamentos.

O presidente dos Metalúrgicos do ABC, Wagner Santana, o Wagnão, colocou em votação a disposição de construir a luta juntos em prol da manutenção da fábrica e dos empregos e também a realização da passeata.

“Hoje a manifestação é para denunciar o que está acontecendo. A ação da Kostal é puro oportunismo, ela esperou o momento para ser o mais sacana possível com vocês, que geraram o lucro dessa empresa. A pandemia da Covid-19 está camuflando os assuntos para que as mazelas que se abatem sobre a classe trabalhadora não sejam notícias. Temos que sair às ruas, mostrar que restaurantes, comércios e serviços serão todos afetados por uma decisão dessas”, afirmou.

Wagnão contou que a empresa quer centralizar a produção na planta de Cravinhos ou importar tudo do México, que tem um acordo de livre comércio com o Brasil que desprotege a indústria nacional. 

“Fizemos diversos acordos para produzir as condições necessárias para que a Kostal se mantivesse aqui e são várias possibilidades para que ela continue. Essa pandemia nos dá a oportunidade de discutir a nacionalização de peças para manter empregos e empresas. Defendemos também a reconversão industrial, de uma empresa adaptar as estruturas para produzir insumos necessários para o período”, explicou.

Indignação

Foto: Adonis Guerra

O diretor executivo do Sindicato, Wellington Messias Damasceno, reforçou a importância de divulgar o movimento para que todos saibam o desmonte que as empresas estão fazendo na região. 

“Temos que mostrar para a sociedade a indignação dos trabalhadores com a atitude da empresa de demitir e fechar em meio a um momento desgraçado, esperando que os trabalhadores baixariam a cabeça como cordeirinhos da empresa. Esse não é o nosso perfil. Essa luta é dos trabalhadores na Kostal, de cada metalúrgico do ABC e de cada trabalhador na região”, afirmou. 

“A empresa quis se aproveitar do momento em que acharam que não haveria resistência dos trabalhadores, que não ousaríamos em fazer as ações que tivessem que ser feitas para defender os empregos e os direitos da companheirada. Estamos hoje mostrando que, apesar da pandemia, não vamos deixar de lutar e ser o Sindicato que sempre fomos e vamos continuar sendo. Temos capacidade de organização, sem deixar jamais de lutar pelos nossos ideais e direitos”, defendeu.

Não é só a Kostal

Foto: Adonis Guerra

O secretário-geral do Sindicato, Aroaldo Oliveira da Silva, ressaltou que o anúncio de fechamento não atinge só quem trabalha na Kostal.

“Grande parte dos trabalhadores mora aqui, gasta o salário no comércio e nos serviços do bairro, da cidade e da região. Por isso a importância de dialogar com cada morador e comerciante sobre os impactos na vida de todos”, disse. 

“Outras empresas dependem da Kostal e a Prefeitura terá diminuição na arrecadação de impostos. É o trabalho na indústria que desencadeia a roda da economia, temos que ter estratégia sobre o futuro da indústria, não queremos um ABC deserto de desempregados e galpões vazios”, alertou.

“Temos discutido muito e pautado o tempo todo os encaminhamentos e propostas para sair da crise com poder público, legislativo e associações empresariais. São urgentes medidas de liberação de crédito para as empresas, a nacionalização de peças, a reconversão industrial e também retomar o debate sobre renovação da frota”, defendeu.

Trabalhadores na Kostal

Foto: Adonis Guerra

“Diante deste momento muito difícil, de pandemia, crise política e econômica, a empresa chega com essa notícia, inclusive querendo parcelar verbas rescisórias. Não vamos aceitar, vamos lutar para conquistar nossos direitos e defender os nossos empregos. Ninguém abandona o barco, seguimos todos juntos”, Mércia Silva Rodrigues, CSE na Kostal e trabalhadora no setor de montagem 2, há 15 anos na fábrica.

“Agradecemos todos os companheiros que vieram prestar solidariedade neste momento difícil. Tentamos encaminhar novas possibilidades para manutenção da empresa, mas ela está batendo na mesma tecla de que a decisão é irreversível. Então se não tivermos atitudes diferentes, não teremos respostas diferentes. Só quem luta conquista”, Eric Oliveira Alves, coordenador do CSE na Kostal e trabalhador na ferramentaria, há 12 anos na empresa.

Foto: Adonis Guerra

“Não imaginava estar nessa situação, ainda mais em um momento que não tem perspectivas. Ao chegar em casa na segunda-feira, minha esposa não acreditava na notícia e minha filha de quatro anos fez festa, porque cheguei mais cedo e ela ainda não entende. A empresa quer enfiar goela abaixo e parcelar direitos, é um absurdo e não pode acontecer. Vamos lutar até o fim”, Hosman Santana da Costa, setor eletrônica, há 25 anos na Kostal.

Foto: Adonis Guerra

“Sempre ouvia falar que a empresa ia embora, mas quando veio a notícia mesmo foi um baque. São pais e mães de família aqui que dependem do emprego e sustentam suas casas. Tenho uma filha de quatro anos e meu marido é taxista, área que não está muito boa. A luta é para permanecer aqui com os empregos. Tudo que tenho hoje foi conquistado com o salário”, Gislene Aparecida Ferreira, setor de injetoras, há 10 anos na empresa