Em entrevista ao ABCD Maior, auxiliar de Lula afirma: O lado de lá está em desvantagem

Para o principal auxiliar do presidente Lula, Dilma tem a virtude de não ser uma candidata de um projeto pessoal, mas sim por um programa de governo

Após pesquisas eleitorais apontando Dilma à frente do segundo colocado, José Serra, o secretário de Gabinete da presidência da República, Gilberto Carvalho, dá um recado: Lula está preocupado com o clima de “já ganhou” de alguns petistas. “Esses dias, o Lula me chamou a atenção e disse que o pessoal do PT está afrouxando. Ele não quer nada disso”, afirma Gilberto. Principal auxiliar do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Carvalho, que também compõe o seleto grupo de coordenadores da campanha de Dilma, concedeu entrevista ao ABCD MAIOR e tratou de temas como a concessão de canal de televisão ao Sindicato dos Metalúrgicos. Leia, a seguir, a entrevista.

ABCD MAIOR – Esta será a primeira eleição do PT sem a presença de Lula como candidato. O senhor acredita que o partido sentirá muita falta?
GILBERTO CARVALHO – Todo mundo vai sentir muito a falta do nome do Lula nestas eleições. Desde 1989 que isso não ocorria e a ausência dele vai ficar muito marcada. Aqui, em Brasília, já vivemos um clima de despedida. Claro que o pessoal do ABCD sente ainda mais a falta de Lula, que é um filho do ABCD. De fato, vai haver este sentimento de perda, mas dois fatores atenuam essa questão. O primeiro deles é que o Lula vai estar muito presente na campanha. Na verdade, eleger a Dilma para o Lula é um compromisso de honra. Seria o coroamento da obra de governo dele. Em segundo, a Dilma é uma perfeita continuadora do trabalho de Lula. Além disso, ela tem uma grande virtude: não é uma candidata de um projeto pessoal, mas sim por um programa de governo.

ABCD MAIOR – A campanha nem começou direito e Marta Suplicy e Aloísio Mercadante já estiveram na Região. Por que o ABCD é tão importante?CARVALHO – O ABCD tem importância econômica para o País e simbólica para o movimento sindical e popular. O ABCD se situou historicamente no setor industrial, que foi e continua sendo o motor da indústria brasileira, que é o setor automotivo. Além disso, uma série de outras empresas formam um polo, que também é tecnológico, importante. Na Região também se desenvolveu a vanguarda do sindicalismo brasileiro desde a década de 1970. É evidente que, além da quantidade de eleitores, o ABCD tem uma importância simbólica muito grande. O ABCD passa a ser um desafio importante, tanto para o governo como para a oposição, que tenta desmantelar o ‘Cinturão Vermelho’, que, além do ABCD conta com Osasco e Guarulhos. Boa parte dessas cidades são governadas pelo PT, ou seja, por um partido de esquerda. Compreendo a tentativa deles de fazer no ABCD um campo de batalha importante, mas a nossa militância histórica não só vai manter o ‘Cinturão’, como vai deixá-lo ainda mais vermelho.

ABCD MAIOR – A pergunta, hoje em dia, não é mais “será que a Dilma decola?”, mas sim “será que a Dilma vence no primeiro turno?” O que o senhor acha disso?
CARVALHO – Uma coisa importante, que é bom deixar claro, é que nós, no governo e nos comitês, estamos fazendo uma força muito grande para não subir no tamanco, no salto alto. Para nós, se a Dilma ganhar no segundo turno por uma diferença de cinco votos é vitória. Não vamos cantar vitória antes da hora.  O lado de lá está em desvantagem e sabe que todos os fatores favorecem a candidatura de Dilma, graças a ela e ao Lula. Sabemos que vai ter apelação e jogo sujo. Temos que estar preparados.

ABCD MAIOR – Como foi a construção da candidatura de Dilma, dentro do governo federal e no PT?
CARVALHO – A candidatura dela é muito natural. O presidente Lula é uma pessoa muito observadora. Ele se preocupava em ver quem de seus auxiliares, ou da frente de esquerda que apoiava o governo, pudesse levar com maior tranquilidade esse projeto que nós tocamos nestes últimos oito anos. E foi natural a decisão sobre a Dilma. Ela foi despontando como uma grande gestora, uma pessoa com muita capacidade de trabalho e direção. Assim, o presidente observou que emergia de sua equipe ministerial sua sucessora. E a prova de fogo da Dilma foi passar pela Casa Civil e coordenar programas importantes, como o PAC (Programa de Aceleração do Crescimento).

ABCD MAIOR – O presidente Lula outorgou canais de televisão e rádio para a fundação controlada pelos metalúgicos. Como o senhor avalia esta decisão?CARVALHO – Eu saúdo com muita alegria. Sou um daqueles que acompanha esse processo desde o tempo da tentativa de conseguir a rádio. Sou desse velho tempo, depois de muitas idas e vindas. Do tempo da burocracia e da má vontade política por parte dos governos. Vi o empenho e sofrimento dessa luta. Para isso, quero destacar o trabalho do Celso Horta nessa questão. Também do Luiz Marinho, do Sérgio Nobre e do Tarcísio Secoli, que se empenharam ao longo da história neste processo. Também quero resgatar a importância da democratização dos meios de comunicação. O fato de as entidades sindicais poderem utilizar os meios de comunicação é extremamente importante. Assim como o ABCD MAIOR, que veio trazer oxigênio para a Região.

ABCD MAIOR – O senhor pretende continuar em um eventual governo Dilma?CARVALHO – Nunca deu certo repartir o governo antes da hora. Esses dias, o Lula me chamou a atenção e disse que o pessoal do PT está afrouxando. Ele não quer nada disso. É para o trabalho ser duro até as últimas horas. Quanto ao meu trabalho, esta é uma função muito pessoal do presidente. A Dilma certamente vai ter uma pessoa especial para colocar, mas se ela me pedir para continuar, estarei à disposição.
 

Do ABCD Maior