Em meio à crise, grau de investimento do Brasil faz um ano
Há alguns anos, ser um país considerado "grau de investimento" pelas agências de classificação de risco era um "sonho antigo" para o Brasil
Ser um país considerado “grau de investimento” pelas agências de classificação de risco era um “sonho antigo” do Brasil: há anos, mercado e governo arriscavam projeções para prever quando a classificação seria concedida, e autoridades pleiteavam a elevação de categoria pessoalmente nos escritórios de “rating” no exterior, como fez o ministro da Fazenda, Guido Mantega, em 2007.
A expectativa, diziam, era de que a avaliação – usada para indicar a investidores que o País é um destino seguro para se aplicar dinheiro – resultaria em crédito e financiamento mais baratos para o governo.
Na sexta-feira (29), fez exatamente um ano que a terceira agência de rating elevou a “nota”, do Brasil, que, com isso se tornou “grau de investimento” segundo Standard & Poor´s (30 de abril), Fitch Ratings (29 de maio – veja ao lado vídeo do Jornal Nacional sobre o anúncio) e a canadense agência canadense DBRS (28 de maio).
Na época, apenas a agência Moody´s manteve o Brasil aquém do grau, sob o argumento de que o país precisaria ajustar os gastos e fazer reformas para alcançar a elevação de grau.
Na data do anúncio, a notícia do grau de investimento foi celebrada pelos mercados e até pelo presidente Lula, que chegou a afirmar que o Brasil foi considerado um país sério a partir da obtenção do título.
Mas será que, depois de um ano marcado pela crise financeira global e pela retração de investimentos no mundo todo, a economia brasileira sentiu algum dos efeitos positivos da obtenção do grau de investimento?
“Deu para sentir os efeitos mesmo na crise, com certeza”, afirma o economista-chefe do banco Geração Futuro de Investimento, Gustav Gorski.
De acordo com o analista, a reação mais saudável do Brasil à retração econômica global pode ter sido, em parte, influenciada pela confiança dos investidores no país como destino seguro para aplicações
“O investimento estrangeiro direto, mesmo durante a crise, continuou entrando no Brasil mais do que em outros países. Os recursos estão vindo e muito por causa do grau de investimento”, afirma o economista.
Na opinião do economista-chefe do Banco Schahin, Silvio Campos Neto, o “bom nome” do Brasil aos olhos do mercado internacional tem ajudado o país a sair da recessão global melhor do que conseguiria sem a avaliação positiva.
“É um sinal positivo a mais. Não é decisivo, mas se soma a outros indicadores econômicos bons”, diz.
Credibilidade
Outro obstáculo da crise aos benefícios do grau de investimento à economia brasileira foram as recriminações que direcionaram-se às agências de “rating”, consideradas parcialmente responsáveis pelos estragos no mercado de crédito.
Em geral, elas foram criticadas por atribuir ótima classificação de risco a operações complexas que, uma vez estourada a crise em meados do ano passado, revelaram-se arriscadíssimas, baseadas em péssimos ativos, e que provocaram enormes prejuízos.
“Os erros fazem com que todos olhem com alguma cautela para algumas avaliações”, diz Silvio Campos Neto, do Banco Schahin, que acredita que a perda de credibilidade afetou mais as avaliações de empresas e setores. Quando o assunto é “rating” soberano, que avalia economia de países, ele acredita não haver mudança de peso.
“A avaliação de setores acabou tendo uma credibilidade negativamente afetada. Mas, em relação à avaliação de ratings soberanos, continua tendo um peso importante até porque não tem muita alternativa”, avalia.
Na semana passada, o comportamento dos mercados mostrou que investidores internacionais ainda se preocupam com o título. A Standard & Poor´s rebaixou a perspectiva de rating do Reino Unido de estável para negativa – alegando elevado endividamento do governo – e os mercados reagiram com perdas e mau humor pelo mundo todo.
O professor da Faculdade de Economia e Administração (FEA) da USP, Fábio Kanczuk, é mais cético sobre o “poder” da boa avaliação sobre a economia.
“É difícil saber o quanto (o grau de investimento) ajudou porque, quando a agência concede a nota, o mercado já precificou há bastante tempo. O grau é uma coisa meio atrasada”, afirma. “O Brasil está mais saudável e vai atrair investimentos, mas não vai ser o grau de investimento que vai fazer milagres”, diz.
Do G1