Em Porto Alegre, um outro Brasil
Porto Alegre, nestes dias de Fórum Social Mundial, já respira um outro Brasil. E não é só por fazer parte de um Estado que é governado pelo PT. “Um outro mundo é possível”, pregam os 60 mil participantes do evento. Por todos os lados gente de outras nacionalidades. São 16 mil leitos de hotéis lotados, até os motéis foram mobilizados para abrigar cerca de 60 mil cidadãos de 150 nacionalidades que desembarcaram na cidade nos últimos dias.
Eles não cabem na grande Porto Alegre e se espalham pelas cidades vizinhas, conta o taxista, feliz com o movimento econômico provocado pelo evento. Viva o PT – aplaude ele – argumentando que, se este movimento se repetisse todo mês, não precisava sequer voltar a chover no Rio Grande do Sul que enfrenta uma de suas mais longas estiagens. À noite, shows, bares cheios, restaurantes lotados, espaços públicos esgotados de tanta atividade.
Para se ter uma idéia do impacto deste movimento sobre a cidade de Porto Alegre, o leitor pode imaginar o que seriam 60 mil pessoas espalhadas pelo ABC. Imaginem o turbilhão de idéias, de propostas e eventos culturais e debate político. Imaginem o volume de dinheiro que circularia pela nossa economia. Imaginem o ABC recebendo personalidades como Danielle Mitterrand, ex-primeira dama da França, Adolfo Perez Esquivel, Prêmio Nobel da Paz de 1980 e Mário Soares, ex-presidente de Portugal. Imaginem nossas faculdades abrigando 700 oficinas reunindo intelectuais do porte de Noam Chomsky.
Um outro mundo é possível, e eventos como este fazem a gente acreditar que, de fato, estamos trabalhando para que se possa pensar em paz com justiça e dignidade para todos. Mas também há sinais de cegueira ideológica que mostram como este caminho será difícil de ser trilhado. Aqui em Porto Alegre, por exemplo, há um vereador do PMDB, Sebastião Melo, que impetrou uma Ação Popular para tentar responsabilizar a prefeitura pelos investimentos feitos no evento. São alguns milhares de reais, que, seguramente, vão representar faturamento para o comércio e recolhimento de impostos muitas vezes superior o investimento feito.
Mas a cegueira ideológica vem também de forças que se dizem de esquerda e que questionam a orientação do Fórum tentando identificá-la com projetos de socialismo autoritário. A imprensa local faz eco criticando vetos à presença da ETA-Pátria Basca e Liberdade, por um lado, e à presença do vice-presidente do Banco Mundial para assuntos externos, o norte americano Mats Karlsson bem como do ministro belga, Guy Verhofstadt, por outro.
Mas, quem queria ver conflitos como o de Seattle, em 1999, para marcar a contraposição dos povos ao Fórum Econômico Mundial, que reúne os grandes mandatários do mundo, pode frustrar-se com Porto Alegre. Os poderosos estarão reunidos este ano em Nova York.
Aqui, em Porto Alegre, com a Marcha pela Paz, realizada nesta Quinta-feira, durante a abertura do Forum, a idéia é mostrar ao mundo, exatamente, o oposto da barbárie. É mostrar que um outro mundo é possível, sem World Trade Center, sem guerras e sem fome, com igualdade e dignidade para todos.
Para nós, do ABC, neste momento em que ainda sentimos o trágico assassinato do nosso prefeito Celso Daniel, este Fórum terá também um sentido especial. Na Quarta-feira jantei com João Avamileno que vinha de um encontro Danielle Mitterrant a ex-primeira dama francesa. A agenda nacional e internacional que João realizou em Porto Alegre, seu diálogo com a mulher de Mitterrant e a notícia da fundação, na França, de uma instituição com o nome do nosso prefeito Celso Daniel mostram que Santo André, inspirado nas políticas propostas por Celso Daniel e nas mãos de João Avamileno, vai continuar representando o papel destacado que sempre teve no cenário político nacional e internacional.