Em protesto, artistas de rua ´enterram´ liberdade de expressão em São Paulo
Manifestações ocorreram também em Sorocaba e Presidente Prudente. Eles acusam o poder público de criar entraves para manifestações
Com cruzes no chão e fantasias improvisadas, artistas de rua protestaram nesta segunda-feira (23) em frente à prefeitura de São Paulo. A encenação do “enterro da liberdade de expressão” encerrou o ato que pede a liberação de espaços públicos para a realização de atividades artísticas. Eles acusam o poder público de criar entraves burocráticos e até agressões físicas por parte da polícia.
Cerca de cem atores se reuniram aproximadamente às dez horas da manhã partindo do Largo do Paissandu, com destino à Praça do Patriarca, ambos no centro da capital. Uma carta-aberta assinada pelo Movimento de Teatro de Rua de São Paulo (MTR/SP) foi entregue à prefeitura e terá cópias encaminhadas também às outras instituições, como o Ministério da Cultura.
No documento, os artistas pedem um posicionamento das gestões públicas e o fim da repressão. O texto fala em perseguição, fechamento de espaços culturais, fiscalização rígida, agressões policiais a artistas e restrições a eventos em praças públicas. Além da capital paulista, os ativistas sustentam que a ação repressiva do poder público ocorre em todo o país.
Adailton Alves, um dos organizadores do protesto, explica que o movimento defende a liberdade de expressão prevista no artigo quinto da Constituição. “Repressão é uma prática que o poder instituído tem realizado em todo o país. Nós queremos apenas pedir um direito que já nos é assegurado, porque nenhuma lei estadual pode sobrepor a lei federal”, disse.
Luciano Santiago, um dos atores que participaram do ato, revela que, na capital paulista, a burocracia para se conseguir autorização para a realização de um espetáculo de rua é proibitiva. Segundo ele, existe restrição de horário para a montagem de peças, além de outras limitações.
“Temos que obedecer uma faixa de horário que é difícil para muitos de nós”, explica Santiago. “Algumas vezes temos que baixar o som, que nem é muito alto. Na época da Copa, a Globo transmitia os jogos com um volume bem alto no Anhangabaú. Mas o artista de rua não pode usar caixa de som amplificado”, compara.
Um dos principais alvos de críticas por repressão na capital paulista é a Subprefeitura da Sé e a Companhia de Engenharia de Tráfego (CET). “Existem grupos de teatro que fazem um grande trabalho na comunidade e a Subprefeitura toma o espaço. Nossa cidade é regida pelo poder privado e quem tem o dinheiro compra o espaço”, finalizou Santiago.
Em outras cidades, mobilizações semelhantes foram realizadas. No estado de São Paulo, Sorocaba e Presidente Prudente receberam protestos. No Rio de Janeiro, os artistas manifestaram na Cinelândia, centro do Rio. O articulador da Rede Brasileira de Teatro de Rua no Rio, Richard Riguetti, reforça o coro: “O exercício da cultura traz benefícios como a ocupação dos espaços públicos, diminuição da violência, o exercício da cidadania”, declarou.
Da Rede Brasil Atual