Em seminário, economista alerta para graves riscos de se ´destruir a Petrobras´

Belluzzo no seminário do Fórum21 ao lado da secretária da prefeitura de São Paulo Leda Paulani

 

Na instalação do Fórum21, em São Paulo, Luiz Gonzaga Belluzzo adverte que o enfraquecimento da companhia petrolífera e das construtoras teria efeitos perniciosos sobre o emprego e investimentos no país

O economista Luiz Gonzaga Belluzzo disse ontem (15), na abertura do Fórum21: Ideias para o Avanço Social, em São Paulo, que a sociedade brasileira, juízes, promotores e a mídia não estão percebendo a gravidade do enfraquecimento da Petrobras e mesmo das empreiteiras envolvidas em denúncias de corrupção. “Estou observando uma tendência na sociedade brasileira de achar que não tem importância em destruir a Petrobras e as empreiteiras. Só que elas são responsáveis por uma parcela muito importante do investimento no país”, disse.

Belluzzo abordou o principal tema do cardápio midiático brasileiro na atualidade, a Operação Lava Jato, em seminário realizado no Sindicato dos Engenheiros de São Paulo, dividido em três mesas com temas conjunturais e estruturais do Brasil pós-eleições de 2014: “Participação Social e Democracia”, “Democratizar os meios de Comunicação” e “Justiça Social e Desenvolvimento Econômico”.

Segundo o economista, é preciso que as autoridades e os poderes constituídos não comprometam os investimentos no país, fundamentais para a retomada de um crescimento a médio prazo. “Tem que separar as malfeitorias e punir. Tem de substituir a direção das empresas e preservá-las. Porque não se vai reinventar de repente uma grande construtora que participou, por exemplo, de Itaipu e outras grandes obras. Você não vai substituir a memória técnica dessas empresas por outra que se vai inventar na hora”, afirmou.

Segundo Belluzzo, a mídia não esclarece, e promotores e juízes envolvidos nos processos não enxergam os graves problemas sociais que decorreriam da paralisação das obras de infraestrutura. “Imaginem, por exemplo, se a Petrobras e essas empresas param de funcionar, o efeito que teria sobre o emprego. Durante muito tempo nós batalhamos pela melhoria da distribuição de renda e pela justiça social no país. Imaginem, para as pessoas que ascenderam socialmente, que conseguiram ter acesso aos bens de consumo universais, o que vai significar para eles uma regressão? Já pensaram nos efeitos de uma recessão no país?”

Para a secretária de Planejamento, Orçamento e Gestão da prefeitura de São Paulo, Leda Paulani, existe uma mensagem neoliberal que permeia toda a abordagem da mídia sobre corrupção no Brasil. “Pelo discurso midiático existe corrupção, então é preciso tirar o dinheiro ‘dessa gente’, diminuir o Estado.”  Mas ela entende que a construção de um país em que a cidadania seja indiscutível depende de um “Estado cada vez mais forte, para arrepio dos liberais”. Em sua opinião, o Estado é necessário para desenvolver políticas públicas sistematicamente.

O fato de o país ter superado a fome e promovido o consumo de parcela significativa da população ao longo dos governos petistas de Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff não podem esconder que ainda há um longo caminho a percorrer. “O que fizemos é quase uma revolução, mas estamos muito longe do que desejamos. Criamos uma sociedade de consumo de massas, mas não a cidadania”, afirmou. Segundo Leda Paulani, a reforma política é essencial para o país chegar a um novo patamar institucional.

O professor da Unicamp Pedro Paulo Zahluth Bastos criticou a política econômica que se anuncia para o segundo mandato de Dilma. Para ele, o cenário econômico de 2015 não é promissor e uma série de fatores, como o comércio internacional em baixa e investimentos em declínio no país, não serão favoráveis a uma política de ajuste fiscal da nova equipe econômica, com Joaquim Levy no Ministério da Fazenda e Nelson Barbosa no Planejamento. Em sua opinião, o país corre o risco de entrar em recessão.

Mais cedo, o seminário discutiu a democratização das comunicações no Brasil e participação social nas decisões políticas. O secretário de Cultura da prefeitura de São Paulo, Juca Ferreira, destacou a importância de se desenvolver  uma “reconstrução programática da transformação da sociedade”, por meio do diálogo com movimentos sociais e da juventude.

Carta de princípios

O Fórum21 deve divulgar nas próximas horas ou dias a Carta de Princípios que vai nortear suas ações e debates. O “espírito” do fórum se resume em algumas constatações que envolvem discussões políticas e ideológicas e leva em consideração o cenário pós-eleitoral. “O resultado das urnas em 2014 não arrefeceu a disputa política no país; ao contrário, intensificou a mobilização de setores conservadores empenhados em colocar as forças progressistas, democráticas e populares na defensiva”, diz um trecho do texto em construção.

Segundo os organizadores do Fórum21, formado por entidades, coletivos, mídia progressista, blogueiros, militantes e sindicalistas, “a disposição da direita em promover o acirramento da luta ideológica e política convoca as forças da esquerda à mobilização para o debate e ação”.

De acordo com eles, o debate permanente com o objetivo de “romper os limites do diálogo” dentro do próprio campo progressista é um dos principais desafios.

Da Rede Brasil Atual