Em tempos de Covid-19 urge uma pandemia: a violência contra as mulheres
Em 2020, ao mesmo tempo que a Covid-19 se espalha pelo mundo, a violência contra meninas e mulheres se transforma em uma pandemia silenciosa.
A violência doméstica atinge mulheres de todas as idades, classes sociais, etnias ou nÃveis de escolaridade, porém o isolamento social causado pela pandemia do CoronavÃrus potencializa os conflitos dentro dos lares na divisão das tarefas domésticas, no cuidado com filhos e idosos, ou ainda pela quebra brusca da estrutura financeira da famÃlia, muitas vezes pelo desemprego.
De todo tipo de violência, aquela praticada no ambiente familiar é a mais perversa, pois o lar é identificado como um lugar acolhedor e de conforto.
Os indicadores de violência contra as mulheres se intensificaram em diferentes paÃses durante a Pandemia, dentre os quais França, Itália, Estados Unidos, Colômbia, Espanha, Portugal e China, porém, o confinamento das mulheres com seu agressor inibe ainda mais as denúncias.
A ONU estima que seriam necessários 240 milhões de euros para combater a violência de gênero no mundo, mas nem 0,3% foi destinada para esse fim. O que se observa é o contrário, estudo da Oxfam mostrou que na América Latina e Caribe o que se viu nesse perÃodo foi o aumento de US$ 48,2 bilhões na fortuna dos já bilionários, e isso corresponde a um terço dos pacotes de estÃmulos econômicos destinados à região.
Ainda assim, algumas medidas emergenciais têm sido tomadas pelos paÃses para proteger as mulheres da violência doméstica. A França e a Bélgica têm transformado quartos de hotéis em abrigos, a Itália desenvolveu um aplicativo de celular para comunicar os crimes e os abusos de gênero, a SuÃça tem feito campanhas públicas para que os vizinhos denunciem brigas violentas em seu entorno. No Brasil, assim como na Espanha, as farmácias podem ser utilizadas para que se encaminhe à s autoridades alertas de emergência. Aqui, a partir de um X vermelho na palma da mão.
A Lei Maria da Penha completou 14 anos no dia 7 de agosto, um marco importante na luta, pois por essa Lei configura violência doméstica e familiar contra a mulher qualquer ação ou omissão baseada no gênero que lhe cause morte, lesão, sofrimento fÃsico, sexual ou psicológico e dano moral e patrimonial, tanto no âmbito familiar, como em qualquer relação Ãntima de afeto.
As estatÃsticas mostram que no Brasil, em 2019, o Ligue 180 (central nacional de atendimento à mulher, criada em 2005) registrou 85,4 mil denúncias. Uma mulher é agredida a cada quatro minutos e somente um mês após o isolamento social, as denúncias de violência haviam se elevado em 40% sobre igual mês do ano anterior.
Apesar de contabilizarmos o crescimento de serviços de atendimento à s mulheres até 2016, mais recentemente assistimos ao desmonte das polÃticas públicas, com cortes importantes no orçamento dos serviços que atendiam as mulheres.
É preciso novamente avançar e garantir a vida das mulheres e seus filhos numa grande rede de solidariedade, que envolve a mobilização de diversos atores pela sua complexidade e amplitude, e que seja apoiada e estruturada de todas as formas a partir do Governo Federal. É preciso intervir no ciclo de violência para que se construa efetivamente uma sociedade alicerçada pelos direitos fundamentais.
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