Emprego cresce no setor automotivo

A indústria automobilística está perto de atingir seu recorde histórico em número de trabalhadores. Fábricas de automóveis, comerciais leves, caminhões e ônibus têm atualmente 131,7 mil trabalhadores, número que só fica atrás do registrado ao fim de 1980, quando empregavam 133,6 mil pessoas. Há 33 anos, contudo, o País abrigava oito fabricantes. Hoje são 19, e muitas delas com novas filiais, o que significa que a produtividade por trabalhador aumentou muito.

Na região do ABC paulista, Mercedes-Benz, Scania e Toyota estão ampliando quadros, informa o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos, Rafael Marques. A Hyundai deve contratar nos próximos meses de 600 a 700 funcionários para abrir terceiro turno na fábrica de Piracicaba (SP). A Chery deve contratar 600 pessoas para a fábrica que vai inaugurar no fim do ano em Jacareí (SP).

Além da evolução no processo produtivo, com mais robôs e sistemas que exigem menos gente para operar máquinas, o setor passou por amplo processo de terceirização, deixando para as empresas de autopeças serviços antes feitos internamente. Sistemas modulares, em que fabricantes de conjuntos de componentes atuam nas instalações da montadora, também levaram à transferência de trabalhadores.

A distribuição do emprego se expandiu pelo País, com a inauguração de montadoras fora do eixo São Paulo-Rio-Minas. Ocorreu um deslocamento de mão de obra do chamado “peão de fábrica” para o “setor de inteligência” das empresas. “Muitos empregos estão concentrados nas áreas de engenharia e de desenvolvimento que cresceram muito nos últimos anos”, constata Marques.

Segundo o sindicalista, nos anos 80 praticamente 90% dos funcionários de uma montadora atuavam na área produtiva e 10% na administrativa. Hoje, a média é de 30% a 40% na parte administrativa, que envolve o que ele chama de “setor de inteligência”, voltado ao desenvolvimento de produtos.
Nível. Esse movimento é um dos responsáveis pela evolução dos salários médios da categoria metalúrgica, um dos mais altos do setor produtivo do País.

“O metalúrgico hoje, além de mais qualificado é mais educado e preparado para trabalhar em grupo, interagir com todas as áreas e lidar com as novas tecnologias”, diz José Pastore, professor de Relações do Trabalho da Faculdade de Economia e Administração da Universidade de São Paulo (FEA/USP).

No ABC, 29% dos metalúrgicos têm grau superior completo e 5% incompleto, informa Marques.
A capacidade produtiva do setor automobilístico também aumentou muito nos últimos anos, afirma Pastore.

Em 1980, deixaram as linhas de montagem 1,165 milhão de veículos, número que chegou a 3,37 milhões no ano passado, incluindo carros desmontados para exportação.

Segundo a subseção do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) no ABC, a produtividade física – que usa a relação de veículos produzidos e número total de trabalhadores, incluindo os administrativos -, saltou de 8,7 carros por trabalhador em 1980 para 26 no ano passado.

Ao longo das últimas três décadas houve significativa variação nas vagas mantidas pelas montadoras. Após o recorde de 133,6 mil empregados em 1980, em 2003 o setor empregava apenas 79 mil trabalhadores. A partir daí, foram praticamente seis anos de crescimento na mão de obra, chegando a 129,9 mil em 2012 e a 131,7 mil neste ano.

O processo de terceirização também levou ao aumento de vagas nas empresas que prestam serviços.
Marques ressalta que a Volkswagen têm 14 mil funcionários em sua folha, mas, ao todo, cerca de 20 mil pessoas trabalham diariamente na unidade. Embora a Ford empregue 4 mil funcionários, cerca de 7 mil exercem diferentes funções no complexo.

Na opinião de Pastore, “a indústria brasileira avançou muito, mas ainda tem muito caminho pela frente.

No ano passado, em visita a uma fábrica da Hyundai na Coreia do Sul, ele constatou que um carro é feito a cada 57 segundos, contabilizando-se o momento em que a chapa de aço entra na linha até o fim do processo.

 

Do Estado de S. Paulo