“Empresários precisam redescobrir Henry Ford”, diz Sérgio Nobre

Leia artigo assinado pelo presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, Sérgio Nobre, publicado nesta terça-feira (31) na página 2 do jornal Diário do Grande ABC sobre redução do IPI e a manutenção dos empregos

A prorrogação da redução do IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) para o setor automotivo era esperada e já aprovada pela maioria da sociedade. Os resultados positivos da medida (aumento da produção e vendas e freada nas demissões provocadas pela crise financeira internacional) justificam a aprovação e provam que o cenário apocalíptico previsto por parcela dos empresários brasileiros pode ser revertido, quando iniciativas adequadas, como a divulgada hoje (30 de março) pelo governo federal, são tomadas. Com a desoneração ganha toda a sociedade.

Na base do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, que representa mais de 100 mil trabalhadores, dos quais 55% no setor automotivo, o apoio à desoneração é unânime, assim como é unânime a certeza de que a medida vai criar barreira contra a crise, preservar o nível de emprego e contribuir com a retomada do crescimento do País.

E a manutenção do emprego não é uma bandeira corporativa nem exclusiva do movimento sindical, mas sim de toda a sociedade brasileira. Ao contrário de setores do empresariado, a população já entendeu que demissão mata o poder de consumo; que desempregado não compra. Sem consumo, o comércio não vende, a indústria não produz e demite. Essa é a espiral da recessão que trava a roda do crescimento.

A ascensão de mais de 20 milhões de brasileiros à Classe C, resultado da recuperação do poder de compra dos salários; do aumento dos postos formais de trabalho, aliada a programas de transferência de renda, foi decisiva para a roda do crescimento girar.

Giro que levou gente que nunca havia sonhado em ter um carro Zero km – caseiros, jardineiros, operários, domésticas – hoje paga em dia as prestações de seu carro 1.000 porque tem emprego e o crediário de longo prazo cabe em seu orçamento. E somente o emprego manterá esse ciclo de crescimento, que vinha sendo impulsionado por essa nova classe média. Esta é uma conquista que a sociedade brasileira não pode perder. E o nosso passaporte para resistir à crise.

De que adiantaria o governo reduzir o IPI do setor automotivo e de outros setores, se não houver quem compre a produção. Os empresários brasileiros precisam redescobrir Henry Ford, que dizia: “para que ocorra o consumo é preciso que exista gente com dinheiro no bolso”, pregando assim a importância do trabalhador ser também consumidor dos próprios carros que produzia.

 É por isso que medidas de desoneração fiscal só surtirão efeito acompanhadas de garantia do emprego. E é em defesa desse emprego, da produção e do crescimento do País, que o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC defendeu a continuidade da redução do IPI com a certeza de que a contrapartida da manutenção do emprego não só seria exigida, mas que também será cumprida.

De Sergio Nobre, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC