Empresas colaboraram com ditadura, dizem torturados

Militantes da Região que sofreram com repressão da ditadura querem debater colaboração das empresas

 

Amanda Perobelli

Sindicalistas, militantes e políticos da Região que sofreram com os 21 anos da ditadura militar no Brasil vão iniciar um delicado debate sobre a repressão: a participação de empresas privadas do ABCD no financiamento e colaboração com a ditadura militar(1964-1985), cooperando com o desaparecimento, perseguição, tortura e mortes de opositores. O assunto será um dos pontos abordados durante sessão solene pelo aniversário da Lei de Anistia, no Teatro Cacilda Becker, na quinta-feira (25/08), às 19h.

Grandes empresas da Região teriam “entregado” trabalhadores que se organizaram contra a ditadura. Ouvidos pelo ABCD MAIOR, militantes perseguidos garantem que a colaboração entre empresas e militares existiu.

Augusto Portugal (foto), que trabalhou na Scania e foi um dos organizadores da greve de maio de 1978, denuncia: “Sabemos que várias empresas participavam. O fato mais objetivo que eu tenho é que minha documentação exclusiva da Scania foi entregue aos militares com nome e assinatura dos responsáveis pelo meu monitoramento na empresa”, garante.

Até diretores de algumas empresas faziam parte do aparato de repressão, como conta Jair Meneguelli, que já presidiu o Sindicato dos Metalúrgicos e a CUT (Central Única dos Trabalhadores). “Não tenho dúvida da parceria entre militares e empresários. Ainda me lembro que o gerente de Recursos Humanos da Mercedes gravava reuniões”, lembra Meneguelli.

Para o diretor do Núcleo de Preservação da Memória Política, Maurice Politi, a colaboração é um fato. “O que temos, hoje, são provas da participação das empresas. São exemplos de empresários que participavam das sessões de tortura, como Henning Boilesen, diretor do grupo Ultra. Jornais de São Paulo também participavam doando automóveis para perseguições”.

A sessão solene, organizada pelo vereador de São Bernardo José Ferreira (PT), também cobrará a instalação da Comissão da Verdade e dará apoio ao projeto de lei 41/10 que tramita na Câmara dos Deputados e prevê o fim do sigilo das informações de Estado sobre a ditadura.

“Somente com a Comissão da Verdade teremos as informações de quem bancou torturas e mortes. Eu não tenho dúvida de que empresários sustentaram os 21 anos de ditadura”, afirma Ferreira.  As empresas citadas na reportagem foram procuradas, mas não retornaram aos questionamentos.

Do ABCD Maior