Empresas não investem em inovação e forçam governo a criar bolsas
O baixo nível, numa comparação internacional, de investimento das empresas em inovação tecnológica levou o governo a lançar um programa de bolsa de estudos para brasileiros frequentarem universidades estrangeiras. A meta é mandar 100 mil estudantes ao exterior, 75 mil financiados com dinheiro público, para que eles se tornem cientistas e, na volta ao país, possam aplicar o conhecimento aquirido em pesquisas para empresas.
Os bolsistas serão selecionados por mérito – vão precisar tirar notas mínimas em provas classificatórias – e direcionados a 50 instituições listadas em dois rankings internacionais como as melhores do planeta. O governo federal vai investir R$ 3,1 bilhões na formação dos alunos.
O programa de bolsas, chamado Ciência sem Fronteiras, foi apresentado pelo ministro da Ciência e Tecnologia, Aloizio Mercadante, nesta terça-feira (27/07), durante reunião do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (CDES), no Palácio do Planalto. Parte da constatação de que o país tem várias deficiências na área de inovação. Entre elas, a “falta protagonismo das empresas” no investimento em pesquisa, segundo Mercadante.
Estatísticas do ministério mostram que, no Brasil, o investimento privado em pesquisa representa 0,54% do Produto Interno Bruto (PIB), a soma das riquezes produzidas pelo paíse em um ano. O investimento público é maior (0,57% do PIB).
Em outros países, a situação se inverte. O Estado gasta menos do que o setor privado. No Japão e na Coréia do Sul, o investimentos privado é quatro vezes superior ao brasileiro como proporção do PIB. Nos Estados Unidos, Cingapura e Alemanha, o triplo. Na China e na Austrália, o dobro. Enquanto dois terços das patentes registradas no mundo são privadas, no Brasil, são públicas.
De acordo com Mercadante, o investimento privado diminuto é resultado de anos de inflação e ausência de crescimento no passado. Mas, também, de “passividade” das empresas, que optam por usar tecnologia comprada de terceiros, o que dá menos trabalho.
Com pouco investimento em pesquisa, as empresas brasileiras, especialmente do setor industrial, têm ganhos de produtividade inferiores aos de competidoras estrangeiras. E, por causa disso, estão sofrendo desde a eclosão da crise financeira internacional de 2008/2009, que fechou os mercados para produtos manufaturados pelo mundo. O atual preço barato do dólar no Brasil, nos patamares mais baixos em mais de uma década, é um complicador adicional.
Sem inovar, as empresas pressionam o governo a adotar medidas que as ajudem a se tornar mais competitivas frente à concorrência de fora. Uma das principais reinvindicações é pagar menos tributos incidentes sobre a folha de salários, algo que o governo estuda concretamente fazer.
O ministro da Fazenda, Guido Mantega, tem dito que ainda não há prazo para a conclusão dos estudos sobre a chamada desoneração da folha salarial.
Segundo Carta Maior apurou, está difícil de chegar a um acordo com as centrais sindicais de trabalhadores, que temem que o governo desonere a folha sem criar um novo imposto para alternativamente financiar a Previdência Social. A Fazenda diz, no entanto, que a desoneração terá uma compensação.
Em recente debate no Congresso sobre desoneração da folha, o economista Manuseto Almeida, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), disse é mais fácil para as empresas tentarem superar problemas de competitividade mandando a fatura para terceiros, do que se esforçando por conta própria.
Para ele, as empresas deveriam gastar mais dinheiro, por exemplo, com o treinamento dos funcionários. “O caminho mais fácil é tirar direitos dos trabalhadores, mais difícil é aumentar a produtividade”, afirmou.
Da Carta Maior