Empresas podem reduzir jornada que ainda sobra dinheiro

As indústrias conquistaram 113% de produtividade entre 1990 e 2001, número mais que folgado para absorver os custos da reduçao de jornada de trabalho para 40 horas semanais e continuar produzindo com lucros. Quem afirma é o economista Cássio Calvete, técnico do Dieese responsável pela campanha de redução de jornada das centrais sindicais.

Produtividade é produzir ou faturar mais no mesmo tempo e com o mesmo número de trabalhadores. Ou seja, se em 1990, dez trabalhadores faziam 100 produtos, em 2001 os mesmos trabalhadores faziam 213 produtos no mesmo tempo, segundo Calvete.

>> Produtividade paga redução da jornada

Ganho alcançado pelas empresas em um ano seria suficiente para absorver os custos da diminuição

As empresas brasileiras têm gordura suficiente para reduzir a jornada de trabalho para 40 horas semanais sem qualquer custo. Isso se explica pelos excepcionais ganhos de produtividade alcançados pelos setores industriais nos últimos anos. “Só as empresas se beneficiaram destes ganhos sem dividi-los com a sociedade”, afirma o economista Cássio Calvete, técnico do Dieese e coordenador de estudos sobre redução da jornada de trabalho no órgão sindical.

>> São verdadeiros os argumentos que as empresas não suportariam o custo da redução da jornada porque quebrariam?

Não. Os ganhos de produtividade nos setores industriais brasileiros dão margem à redução da jornada sem que isso signifique a quebradeira de empresas ou aumento do desemprego.

>> Explique melhor…

De 1990 até 2001 a produtividade nos setores industriais cresceu 113%, uma média anual de 4,8% ao ano, conforme pesquisa mensal do IBGE. Reduzir a jornada de 44 para 40 horas, significaria um custo adicional de apenas 1,9% no curto prazo. Ou seja, nos últimos anos as empresas acumularam gordura mais que suficiente para a redução. Aliás, menos da metade da produtividade conquistada em qualquer um destes anos já seria suficiente para absorver a redução.

>> E por que tanta resistência?

Os ganhos de produtividade sempre beneficiaram os empresários. Os trabalhadores e a sociedade em geral usufruíram pouco ou quase nada destes ganhos. Os lucros do setor financeiro têm batido recordes a cada ano e os lucros do setor produtivo igualmente. Já a classe trabalhadora sofre redução de seus rendimentos e elevação dos níveis de desemprego enquanto a sociedade enfrenta o aumento de preços.

>> Como as empresas absorveram a redução das 48 horas para as 44 horas a partir de 1988?

É importante deixar claro que nenhuma empresa quebrou porque reduziu a jornada de trabalho de 48 para 44 horas. Porém, apesar de ter gerado novos postos de trabalho não gerou tantos quantos seriam possíveis e esperados. Isso porque as empresas ao invés de contratar utilizaram o expediente de aumento das horas-extras.

>> E isso não poderia ocorrer novamente?

É por esse motivo que a campanha de redução deve ser acompanhada pela limitação das horas-extras ou controle do banco de horas. A redução da jornada é uma tendência mundial e, como disse antes, é uma maneira da sociedade também aproveitar os altos ganhos de produtividade ao ter o índice de desemprego reduzido, ao melhorar a qualidade de vida dos trabalhadores e a sua renda. O fim das horas extras, ou seu controle e limitação, também significam geração de emprego.

>> Muito mais que econômica, essa é uma briga política?

E é ideológica também. Desde o início da revolução industrial que os trabalhadores lutam pela redução da jornada e os patrões resistem com o mesmo argumento do aumento de custo. Por isso a campanha das centrais sindicais pela redução da jornada tem de contar com a conscientização da sociedade, deve ser uma ação coletiva, inclusive de quem já trabalha 40 horas. É importante as pessoas que já têm as 40 horas lutarem pela redução porque diminuindo o desemprego, são maiores as chances de lutar por melhores salários e pela redução para 35