Empresas têm até fim de agosto para aderir a programa que estimula paternidade responsável
O publicitário Guilherme Ramos de Albuquerque, 39 anos, viveu um dos momentos mais importantes em maio, quando nasceu sua primeira filha, Maria Alice. Habituado a uma rotina corrida, ele preferiu dar um tempo em suas atividades profissionais e se dedicar inteiramente à nova fase. Para isso, logo após a licença-paternidade de cinco dias, tirou mais 30 de férias. O processo não sofreu qualquer objeção por parte da empresa onde trabalha porque a possibilidade de junção dos dois períodos de afastamento é uma norma corporativa adotada pela BR Distribuidora.
“Isso foi fundamental, porque tanto a minha família como a da minha esposa são de Minas Gerais e eu precisava estar perto para apoiar e cuidar junto. Além disso, fez muita diferença porque, como participei bastante desde o início, criei um laço afetivo com a bebê ainda mais forte e hoje, quando chego do trabalho, me sinto responsável pelas tarefas da família e sempre compartilho a responsabilidade com minha esposa”, disse.
A empresa onde o publicitário trabalha faz parte do Programa Pró-Equidade de Gênero e Raça, coordenado pela Secretaria de Políticas para as Mulheres. Na primeira edição do programa, em 2005, apenas 15 empresas aderiram, todas públicas. A partir de 2007, quando foi lançada a segunda edição, a secretaria abriu para que empresas privadas também pudessem se cadastrar. Em 2011, o número de empresas chegou a 81. As inscrições para a 5ª edição estão abertas e vão até 30 de agosto. Instituições privadas e públicas que tenham ações ou estejam interessadas em enfrentar discriminações no trabalho podem aderir ao programa pelo e-mail proequidade@spm.gov.br.
De acordo com Janaína Nolasco Gama, uma das responsáveis pelas ações do programa na BR Distribuidora, o objetivo inicial da companhia ao aderir o programa em 2009, era mudar a cultura organizacional. As ações, voltadas principalmente ao estímulo à paternidade responsável, ajudaram também a mudar as relações no âmbito familiar.
“A partir dessa mudança de paradigma dentro da empresa, os funcionários replicam em seus lares e para seus amigos essa cultura de compartilhamento das tarefas domésticas e também das responsabilidades em relação aos filhos. É uma mudança que começa internamente, mas vai se irradiando”, disse ela lembrando que, para incentivar os homens a assumirem esses papeis, foi montado um mural na sede da empresa com fotos dos funcionários exercendo a paternidade compartilhada.
A coordenadora-geral de autonomia econômica da Secretaria de Políticas para as Mulheres, Gláucia Fraccaro, destacou que ao aderir ao programa, as empresas assumem o compromisso de elaborar um plano de ação com metas voltadas à valorização de profissionais e à promoção da igualdade nas relações de trabalho. Ela ressaltou que o Pró-Equidade de Gênero e Raça foi adotado principalmente por empresas públicas, mas que o governo está empenhado em atrair as companhias da iniciativa privada.
“O objetivo do programa é incentivar o desenvolvimento de boas práticas de gestão de pessoas e da cultura organizacional que possibilitem o enfrentamento e o combate às desigualdades nas relações de trabalho. Quando aderem ao programa, as empresas têm que desenvolver um plano de ações e cumprir, pelo menos, 70% delas em 24 meses”, disse.
Ela acrescentou que as organizações que cumprem as metas estabelecidas recebem o selo Pró-Equidade de Gênero e Raça, que só não é concedido se houver denúncia de assédio não apurada no ambiente corporativo ou se a empresa tiver sido condenada pela Justiça por uso de trabalho escravo ou compulsório.
Gláucia Fraccaro destacou que, segundo levantamento da pasta, desde que o programa foi criado, em 2005, cerca de 900 mil funcionárias e funcionários – 45% mulheres e 55% homens – foram alcançados pelas ações. Além disso, o ministério estima que as organizações participantes do Pró-Equidade de Gênero e Raça chegam a apresentar quase três vezes mais mulheres em cargos executivos do que as empresas que não aderiram: enquanto as mulheres ocupam 40% das posições de comando e decisão, elas são 59% em empresas participantes do Pró-Equidade de Gênero e Raça. Já em empresas não participantes, as executivas somam 14% e os homens ocupam 86% dos cargos.
Entre as boas práticas adotadas pelas companhias no âmbito do programa estão instalação de salas de aleitamento, ampliação das licenças-maternidade e paternidade, adoção de linguagem inclusiva nos crachás e contra-cheques, adaptação de uniformes e equipamentos de proteção individual para mulheres e inclusão nos editais de concursos públicos dos temas para igualdade de gênero e diversidade entre os conteúdos programáticos.
Da Agência Brasil