Encontros musicais

Sabe o que Barão Vermelho, Paralamas e Titãs têm em comum? 25 anos de rodagem pelas estradas do rock nacional.

A gente era assim

O Barão Vermelho misturou o suingue negro americano com a poética brasileira, contrastando com o rock “branquela” que insistia em predominar. E resistiu mesmo sem Cazuza

Por Guilherme Bryan



Frejat, Guto Goffi, Cazuza, Maurício Barros e Dé Palmeira

Cazuza, Roberto Frejat, Dé, Guto Goffi e Maurício Barros gravaram em apenas dois dias aquele que seria o primeiro disco do Barão Vermelho. Com canções importantes como Ponto Fraco e Down em Mim, começava em 1982 uma das carreiras mais bem-sucedidas do rock nacional. Integrantes entraram e saíram, mas o Barão se manteve firme e forte. Para marcar esses 25 anos de estrada, a apresentação histórica no Rock in Rio de 1985 foi lançada em CD e DVD. Ainda este ano, sai também uma biografia, Por Que a Gente É Assim?, escrita por Guto Goffi, Ezequiel Neves e pelo jornalista Rodrigo Pinto.

“O grupo foi formado, ainda na época de colégio, por mim e pelo Guto Goffi. Aos poucos encontramos os outros integrantes e por fim o Cazuza, que começou a mexer nas letras e conhecia muita gente do meio artístico, o que ajudou bastante no início. O rock, na época, era maldito, underground”, lembra Maurício Barros. “Não tocava no rádio. Fizemos nosso primeiro show no Circo Voador, ainda no Arpoador, junto com a Blitz. Nunca ficamos muito presos ao que estava rolando.” Maurício também reconhece que se destacavam pelas letras e pelo carisma do cantor. “A sonoridade era crua e totalmente diferente do som pasteurizado da maioria.”

Guto Goffi via no grupo influência da música negra americana misturada à poesia de Cartola, Ângela Ro Ro e Luiz Melodia. “As outras bandas da época eram derivadas do punk – Sex Pistols, The Clash -, que eram bandas mais branquelas, com outro suingue.” A referência mais forte do Barão Vermelho sempre foram os Rolling Stones. “Fiquei impressionado com aqueles cinco moleques novinhos que tocavam um som à la Stones e com um vocalista que não tinha técnica alguma, era um berrador, mas muito carismático”, lembra o jornalista Jamari França. “Além disso, o Barão teve em suas fileiras um dos maiores letristas do Brasil, Cazuza”, completa Arthur Dapieve, autor do livro BRock – O Rock Brasileiro dos Anos 80.

O Barão Vermelho estourou em 1984 com o álbum Maior Abandonado, que trazia sucessos como a faixa-título, Bete Balanço e Por Que a Gente É Assim? A banda rodou o Brasil e encarou talvez um de seus maiores desafios – a platéia do Rock in Rio. “Eles mostraram que o rock brasileiro poderia ser comparado ao de algumas bandas internacionais que se apresentaram por lá”, acredita Marcos Mazzola, coordenador do CD e DVD do show, que conta com o documentário Aconteceu em 85. O primeiro show do Barão Vermelho no Rock in Rio foi realizado no mesmo dia em que foi eleito Tancredo Neves, primeiro presidente civil após um longo período de regime militar. Cazuza saudou ao final de Pro Dia Nascer Feliz: “Que o dia nasça lindo pra todo mundo amanhã. Com um Brasil novo, com a rapaziada esperta! Valeu!”

Segundo Rodrigo Pinto, havia uma sensação de que Tancredo personificaria o início da modernidade e o fim da caretice dos generais. “Mas, que ninguém se iluda, ele era um cara muito ligado ao poder constituído. No show, o Barão deu voz à vontade que havia de que os militares fossem embora. Naquele momento, a classe média, dentro e fora do palco, se manifestou coletiva e contrariamente à ditadura, que estava de saída”, comenta. “Como brasileiros e jovens, nascidos em plena ditadura militar, sentimos a importância daquele momento, e celebramos com a platéia”, completa Maurício Barros.

Poucos meses depois o vocalista Cazuza abandonaria os antigos colegas e partiria em carreira solo. “Tivemos de nos reinventar, começar tudo de novo. Não modificamos muito a sonoridade da banda, apenas seguimos nosso processo de amadurecimento técnico com a experiência na estrada e no estúdi