Endividamento de países ricos explode em seis anos

No período de 2005 a 2011, enquanto as economias desenvolvidas registraram aumento da dívida pública, o grupo de países dos Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) conseguiu mantê-la sob controle, segundo dados do Fundo Monetário Internacional compilados pela Folha.

 Os países emergentes também registraram maiores taxas de crescimento em relação às economias maduras.

 Os Estados Unidos passaram de uma dívida pública bruta de 67% do PIB em 2005 para 106,6% no ano passado, e o Japão oscilou de 186% para 236% em 2011.

 A União Europeia passou de uma dívida pública bruta equivalente a quase 63% do PIB em 2005 para 84,5% do PIB no ano passado.

 Os dois índices estão acima da meta de dívida pública de 60% do PIB estabelecida por 25 países da União Europeia, que assinaram neste ano o chamado “pacto fiscal” para equilibrar suas finanças. Apenas Reino Unido e República Tcheca ficaram de fora.

 Na zona do euro, o endividamento hoje é ainda mais alto: o índice saltou de 70% do PIB em 2005 para 89,9% do PIB no ano passado.

 Enquanto isso, a maior relação dívida/PIB do grupo dos Brics em 2011 pertence à Índia, com 67,6%, mas em trajetória descendente -estava em 81% em 2005.

 O Brasil tem a segunda maior dívida, equivalente a 65,1% do PIB em 2011, seguido pela África do Sul (39,9%). China e Rússia têm dívidas menores: 22% e 8,4% de seus PIBs, respectivamente.

 A crescente dívida pública das economias mais desenvolvidas do mundo é um problema que segue fazendo com que a promoção do crescimento, tão frequente nos discursos políticos, esbarre na necessidade de aplicação de medidas de austeridade para torná-la sustentável.

 O economista Semoon Chang, em artigo neste ano na revista do Instituto Samsung de Pesquisa Econômica, usa a expressão “Grande Crise da Dívida” para o período vivido desde 2011, em continuidade à “Grande Recessão” entre 2007 e 2009.

 Chang argumenta que a recessão diminuiu a arrecadação tributária ao mesmo tempo em que obrigou os governos a aumentar gastos, uma combinação que levou ao “aumento dramático dos deficit orçamentários anuais e da dívida do setor público”.

 A França é a vítima mais recente dos dilemas da atual crise. Depois de ser eleito em maio com a promessa de fazer o país voltar a crescer, o presidente François Hollande se viu obrigado a anunciar neste mês um pacote de corte de gastos e aumento de impostos para os mais ricos.

 Howard Archer, economista-chefe da consultoria IHS Global Insight para a região, afirma à Folha que é muito provável que a cifra suba no curto prazo, “pois os deficits orçamentários ainda são altos na maioria dos países”.

 Reformas estruturais
 Archer avalia que a zona do euro começa a aceitar que a austeridade está se tornando contraproducente e prejudicando o crescimento, com o custo adicional das taxas de desemprego. Em sua opinião, “reformas estruturais são vitais, mas levarão tempo para funcionar e são impopulares com o eleitorado”.

 Apesar disso, o economista Roberto Troster, doutor pela USP, destaca que é preciso levar em consideração a sustentabilidade dessa dívida.

 “A análise que deve ser feita é sobre o peso da dívida, se é viável ou não. Para países, a questão que fica é quanto não será pago, ficando para gerações futuras”, comenta.

 

Da Folha de S. Paulo