Ensino influencia desemprego

Para economista, diploma do ensino médio não é mais garantia de emprego

A taxa de desemprego do ABCD registrou, em junho deste ano, o índice de 12,5% e alcançou o segundo menor nível, na comparação com o mesmo mês dos últimos oito anos. Mesmo assim, 176 mil pessoas estavam desempregadas na Região ao final do mês. Só nesta semana os postos públicos de apoio ao trabalhador oferecem aproximadamente 3.100 oportunidades de emprego. Por que ainda há pessoas desempregadas na Região? A resposta está ligada à qualidade do ensino.

De acordo com o economista do Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos), Sérgio Mendonça, com a intensificação do acesso da população à educação, o diploma do ensino médio deixou de ser garantia de emprego. “Há uma barreira no mercado de trabalho para quem não tem ensino médio completo”, afirmou.

Para a análise, Mendonça se baseia no perfil do trabalhador desempregado na Região Metropolitana de São Paulo. “Podemos dizer que esta pessoa é uma jovem, entre 18 e 24 anos, solteira, que vive com os pais e que tem o ensino médio completo ou está cursando o ensino superior”, aponta. O perfil também vale para o ABCD.

O economista aponta ainda que dados da PED (Pesquisa de Emprego e Desemprego), realizada pelo Dieese e pela Fundação Seade, apontam que a maior parcela dos desempregados (44,3%) da região metropolitana tem ensino médio completo ou superior incompleto. Apenas 15,4% dos desocupados não terminaram o ensino médio. Mendonça destaca que a pesquisa não avalia a qualidade do ensino.

No entanto, há uma série de motivos que pode explicar a dificuldade de encontrar emprego. Um deles é que com a continuidade da queda da taxa do desemprego, o trabalhador se sente à vontade para recusar vagas por causa de salário baixo ou da distância do local de trabalho. “Outras vezes, os pais estão empregados e isso permite à pessoa aguentar um pouco mais de tempo sem emprego”, avalia Mendonça.

Realidade – A estudante Jéssica Soares concluirá o ensino médio em uma escola pública de Diadema até o final do ano. A jovem mora com seus pais e seus irmãos e está sem trabalhar há alguns meses. O pai é o único da família que está empregado. A única experiência profissional de Jéssica foi um emprego temporário no final do ano passado em uma loja de uma rede de lanchonetes na cidade.

De acordo com a jovem, a falta de experiência e as exigências das empresas contratantes são os principais empecilhos para o tão sonhado emprego. “As empresas estão muito exigentes. Elas não consideram pequenas experiências profissionais. Fica quase impossível conseguir um trabalho”, afirmou. “Meus pais pretendem voltar ao Nordeste. Quero ficar, mas se não conseguir nenhum emprego para pagar minhas contas, terei que viajar com eles”, finalizou.

Para o coordenador do CPTER (Centro Público Trabalho, Emprego e Renda) de Diadema, Jerônimo Neto, apesar da economia do País viver um bom momento, o índice de desemprego é relativamente alto e o sistema de educação brasileiro influencia o nível de desocupação. “É importante que todos possam cursar o ensino médio, mas é preciso que tanto o governo federal como o estadual ofereçam educação de qualidade para as pessoas”, avalia.
 

Do ABCD Maior