Entenda o pacote aprovado nos EUA para combater a crise
Dinheiro será liberado em parcelas para comprar papéis das empresas em dificuldades
O Senado aprovou por 74 votos a 25 a nova proposta para um pacote de US$ 700 bilhões (R$ 1,4 trilhão) em ajuda a empresas afetadas pela crise econômica dos Estados Unidos. Na tentativa de ampliar o apoio para que o plano fosse aprovado, o custo do projeto teve um aumento de US$ 150 bilhões, o que inclui corte de impostos para a classe média e incentivos a pequenas empresas.
Agora, o pacote de socorro financeiro de US$ 850 bilhões voltará à Câmara nesta sexta, onde foi rejeitado em primeira votação na última segunda. Se for aprovado, o pacote abrirá caminho para a maior intervenção do Estado na economia americana desde a crise de 1929.
Quais são as principais propostas do pacote?
1. US$ 700 bilhões serão liberados em parcelas para a compra de papéis podres em poder de bancos e outras empresas em dificuldades financeiras. Liberação imediata de US$ 250 bilhões, em seguida US$ 100 bilhões. Os outros US$ 350 bilhões poderão ser retidos se o Congresso não estiver satisfeito com o desempenho do programa.
2. A principal alteração no projeto aprovado pelo Senado trata do aumento do limite de depósitos bancários que passam a ser garantidos pelo governo, de US$ 100 mil para US$ 250 mil.
3. Será determinado um limite de compensação para os chefes de empresas participantes do programa, para evitar que alguém se aproveite da ajuda do governo e depois deixe o cargo.
3. Novo projeto prevê mais de US$ 150 bilhões para tornar o plano mais popular, o que inclui corte de impostos para classe média e incentivo a pequenos empresários.
4. O secretário do Tesouro, Henry Paulson, poderá renegociar contratos de hipotecas para ajudar proprietários com problemas para pagar dívidas a fim de evitar o despejo do inquilino.
5. O governo poderá cancelar deduções de impostos para empresas que paguem mais de US$ 500 mil por ano a seus executivos.
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6. Washington assumirá participação nas empresas que receberem ajuda para que os contribuuintes possam compartilhar lucros das companhias, se elas se recuperarem.
7. Cláusula exigida pelos republicanos da Câmara dá ao secretário do Tesouro a opção de requerer que os bancos comprem seguros para cobrir sua carteira de títulos vinculados a hipotecas.
8. Será criado o comitê que ficará encarregado de supervisionar a aplicação do dinheiro do pacote. Entre as autoridades que farão parte desse comitê estão os presidentes do Fed (o banco central americano) e da Comissão de Mercado de Valores (órgão que regulamenta o mercado de ações, semelhante à Comissão de Valores Mobiliários brasileira).
Como o pacote deve funcionar?
Com o dinheiro, o governo ajudará as instituições com problemas, comprando os papéis podres, em troca de ações das empresas. Dessa forma, se o banco se recuperar, os contribuintes vão lucrar com os dividendos dos papéis.
Passará a haver restrições aos pagamentos dos executivos dos bancos, que deixarão de ter os chamados “pára-quedas dourados” – imensos pagamentos destinados a banqueiros que estão deixando suas instituições.
O que são papéis podres?
Papéis podres são títulos com possibilidade de não serem pagos a seus detentores. Ou seja, têm alto potencial de prejuízo, apesar de o volume das perdas que eles representam ser incerto. Isso acontece porque eles estão atrelados a financiamentos imobiliários.
A atual crise foi desencadeada pelo aumento da inadimplência de pessoas que contraíram hipotecas, mas não se sabe ao certo quais conseguirão honrar seus compromissos ou não.
Por que a compra desses papéis deve ajudar os bancos com problemas?
A proposta em votação no Congresso é que os papéis sejam comprados pelo valor de maturação, muito superior ao valor de mercado. Com isso, as empresas em dificuldades receberiam uma grande injeção de capital, melhorando suas contas.
Isso, por sua vez, aumentaria a liquidez do mercado – já que os bancos ganhariam mais segurança para emprestar recursos uns ao outros.
Por que o projeto original foi rejeitado na Câmara?
O projeto é bastante impopular nos Estados Unidos. Uma pesquisa realizada pelo jornal americano USA Today, antes das mudanças atuais no plano, revelou que apenas 22% dos eleitores o apoiavam.
Muitos americanos consideram o pacote uma proposta de ajuda aos banqueiros e, em um ano de eleições legislativas (além da presidencial), muitos congressistas que são candidatos à reeleição consideraram politicamente arriscado demais votar a favor da proposta.
Também pesou o fator ideológico. Muitos republicanos conservadores são, por princípio, contrários a uma intervenção do Estado na economia.
A maior parte dos republicanos – do mesmo partido do presidente George W. Bush, que era a favor da proposta – votou contra o plano.
Falta votação na Câmara. O que pode acontecer se o projeto não for aprovado?
Os mais pessimistas prevêem conseqüências nefastas para o mercado financeiro. Mais instituições financeiras quebrariam, e os Estados Unidos entrariam em uma grande recessão com desdobramentos profundos na economia global.
Depois da rejeição na Câmara, as bolsas de valores de todo o mundo sofreram quedas significativas. O índice Dow Jones, da bolsa de Nova York, registrou na segunda-feira sua maior queda em pontos (mais de 770) em todos os tempos.
Outro fator que atingiu muitos investidores foi a queda no preço do barril do petróleo e na cotação do dólar. Mas analistas dizem que o principal problema é que, sem o pacote, continuaria a incerteza sobre o futuro do setor financeiro.
O mercado de crédito permaneceria praticamente paralisado, já que os bancos continuariam com receio de emprestar dinheiro uns aos outros. Indivíduos e empresas interessadas em obter financiamentos também continuariam a ter dificuldade em obter dinheiro.