Entidades de defesa da liberdade de imprensa se omitem sobre prisão de Assange
A prisão do fundador do site Wikileaks, o jornalista australiano Julian Assange, provocou grande repercussão na mídia internacional. As vozes de entidades de defesa da liberdade de imprensa, porém, não protestaram até o momento, nem questionaram a validade da ordem de prisão da Justiça sueca, que acusa o jornalista de “crimes sexuais”.
Entidades como a Associação Mundial de Jornais, o World Press Freedom Committee e a norte-americana Freedom House costumam protestar no caso de prisões políticas contra jornalistas, principalmente em países não alinhados a potências ocidentais. Desta vez, por enquanto, evitaram criticar a ação contra colega preso.
Até a publicação desta matéria, nenhuma das entidades citadas trazia qualquer manifestação sobre a prisão de Assange em seus respectivos websites, como verificou a reportagem do Opera Mundi. Somente a ONG Repórteres Sem Fronteiras, com sede em Paris, se manifestou, mas sem condenar a prisão do jornalista.
Acusado de abusos sexuais supostamente cometidos na Suécia, Assange se entregou nesta terça-feira à polícia do Reino Unido, onde estava escondido desde o recente vazamento de documentos diplomáticos dos Estados Unidos. As entidades do setor, porém, não se levantaram em sua defesa nem questionaram a validade da prisão – considerando o fato de não haver nenhuma acusação formal – ou se o mandado se trata de uma retaliação contra a divulgação dos documentos secretos.
Em comunicado emitido nesta terça-feira, a RSF apenas pede que a Justiça inglesa seja “imparcial” e ratifica que o processo contra Assange deve levar em conta somente as acusações sobre os supostos crimes, deixando de lado as revelações feitas pelo Wikileaks. Além disso, o secretário-geral da organização, Jean-François Julliard, que assina o comunicado, pede às polícias britânica e sueca que respeitem os direitos de Assange e condenou o bloqueio, os ataques e a pressão política que o Wikileaks vem sofrendo.
“Esta é a primeira vez que vimos uma tentativa a nível internacional para censurar um site dedicado ao princípio da transparência”, diz o texto.
Pressão externa
O comunicado faz ainda um apelo para que o caso seja julgado com imparcialidade e sem que seja submetido a qualquer pressão externa de governos, levando em conta o direito da liberdade de informação.
“Gostaríamos de salientar que o site tem desempenhado um papel útil para a divulgação de violações graves de direitos humanos que foram cometidas em nome da ´guerra contra o terror´ durante a última década”, conclui.
Assange, que é formado em matemática e física, atua como jornalista desde 2006 e é editor do Wikileaks. Na Suécia, assim como na maioria dos países da Europa (e, mais recentemente, no Brasil), o diploma de jornalista não é exigido para que se exerça a profissão.
Manifesto
Enquanto isso, na Austrália, jornalistas e escritores se uniram em um manifesto para que a primeira-ministra da Austrália expresse um “apoio firme” à Assange, que tem nacionalidade australiana.
“Pedimos que condene, em nome do governo australiano, as convocações de agressão física a Assange e que afirme publicamente que a senhora garantirá que Assange receba as proteções a que tem direito, mesmo que as ameaças venham de indivíduos ou Estados”, afirma a carta dirigida à primeira-ministra australiana, Julia Gillard, publicado no site do canal de televisão australiano ABC.
Entre os signatários estão o senador do Partido Verde Bob Brown e escritores australianos, como Raimond Gaita, Christos Tsiolkas e Helen Garner. Além deles, o intelectual norte-americano Noam Chomsky, uma das personalidades mais conhecidas da esquerda dos EUA, também aderiu ao manifesto.
Do Opera Mundi