Entrevista com Gilson Menezes – A greve por quem a liderou
Entrada no Sindicato
Comecei como diretor
do Sindicato na Scania. Em
1977 fizemos uma assembléia
muito importante no
Sindicato para protestar
contra os índices de correção
salarial, que eram manipulados.
Preparação da greve
Em 1978 fizemos a
campanha salarial no início
do ano e houve movimentação
normal nas fábricas,
com o governo fixando o
reajuste. Saiu matéria numa
revista que mostrava os
lucros da Scania. Números
fabulosos. Xeroquei a
reportagem e preguei nos
banheiros. Aí começou o
comentário, a empresa com
tanto lucro, mas aumento
no salário que é bom, nada.
Com isso, sentimos que as
coisas estavam fervendo,
os trabalhadores discutindo
e propus a greve para os
companheiros do Sindicato.
Muitos duvidaram que
seria possível organizar o
movimento.
A sombra da repressão e a coragem da luta
Convenci a diretoria
que era possível parar e começamos
a trabalhar com
cautela, porque a chefia
não podia saber, a empresa
não podia saber de jeito
nenhum. Avalio essa greve
como muito inteligente por
parte dos trabalhadores.
Debaixo da ditadura, não
se podia nem falar a palavra
greve. E nós organizarmos
uma greve dentro da empresa,
ao ponto de, às 7h da
manhã, quando começou o
turno do dia 12, o pessoal
da ferramentaria ligar as
máquinas e logo desligar.
O bicho pegou
Nós organizamos as
lideranças de tal modo que
às 7h todo mundo estava na
ferramentaria para ver que
todos estavam de braços
cruzados. As lideranças saíram
da ferramentaria para
avisar todas as sessões que
o coração da fábrica estava
parado.
Sentiram o golpe
Depois, começou a
pressão da empresa. Me
chamaram até a diretoria,
que nesse momento já estava
toda reunida. Fui só
eu de trabalhador. Eles
pediram nomes de líderes
para debater a pauta de reivindicações.
Garanti que não tinha
líder, pois a parada foi espontânea
e me coloquei
como representante dos
trabalhadores.
Intimidação patronal
Antes de começar a
reunião eles perguntavam
se eu não tinha medo de ser
jogado em alto mar, assassinado,
porque vivíamos na
ditadura militar.
Depois do encontro,
vieram diretores da Secretaria
de Estado do Trabalho
e diretores do Dops (a polícia
política) para perguntar
sobre lideranças. Mantive
minha posição e não apontei
ninguém. Foi uma greve
brilhante, de uma garotada –
porque poucos tinham mais
de 30 anos. Daí pipocaram
várias greves em outros lugares,
nas outras empresas
do ABC e depois foi para o
Brasil inteiro.
Do econômico ao político
A greve era por reajuste
salarial, mas também havia
a luta pela democracia,
pelos direitos dos trabalhadores,
para ter o direito a
essa arma, que é a greve.
O trabalhador pode
vender melhor seu trabalho,
querer ter melhores
condições de trabalho, é um
direito dele. Tudo isso sempre
teve muita importância,
mas precisávamos de uma
reivindicação econômica
principal para puxar a mobilização.