Entrevista|Para não cair em tentação

Certa vez, diante de um homem que pensava em se castrar por causa de seu insaciável desejo sexual, Buda disse: “Se a mente que está em desvio não for contida, de que serve cortar um órgão?” O budista Hong Tsu Ho diz que é preciso meditar para lidar com as fraquezas humanas

Por Ederson Granetto

Se você tem muita vontade de comer, tem de controlar, senão vai se prejudicar. Desejo em excesso machuca as pessoas. É preciso transformar os desejos

Meses antes do Natal, milhões de pessoas em todo o mundo cristão correm para as lojas. Organizam-se as festinhas de “amigo oculto” ou “amigo secreto” (e até as muitas variantes, como o “inimigo oculto” ou “amigo da onça”). Até quem não tem dinheiro sobrando se desdobra ou pede emprestado para presentear; se, por infortúnio, não for possível comprar alguma lembrancinha, vem logo aquele inevitável sentimento de culpa.

Para encontrar uma visão diferente dessa e de outras “fraquezas” da sociedade de consumo, a Revista do Brasil conversou com um budista praticante. O chinês Hong Tsu Ho é presidente da Budha’s Light International Association no Brasil (Blia – ou Associação Internacional Luz de Buda), ligada ao templo Mahayana Zu Lai, em Cotia, Grande São Paulo. Para ele, os cristãos lembram pouco de Jesus no Natal.

O recado é importante. Em algumas famílias, as crianças têm tantos brinquedos que ao chegar o Natal seguinte alguns ainda nem foram tirados da embalagem; a indústria do desejo nos fabrica a necessidade de sempre comprar outros, mais modernos e sofisticados, de preferência iguais ou melhores que o do vizinho ou do colega da escola. Em outros lares, as crianças dependem de doações para ter com que brincar.

Hong Tsu Ho fala sobre como os budistas fazem para não cair nas tentações, como controlar nossos desejos, tão bem trabalhados pelos apelos da publicidade e do marketing. Para ele, com força de vontade, paciência, meditação e muito treino é possível resistir.

O Natal está próximo e o Brasil é um país de maioria cristã que segue a tradição da troca de presentes entre parentes e amigos, nesta época. Como o budismo vê essa tradição?
Para mim o nascimento de Jesus deveria ser comemorado de forma diferente: é preciso agradecer a vinda dele para ensinar a todos sobre o amor e a compaixão pelos outros como forma de construção da paz interior. Acho que as pessoas esqueceram isso – ou foram levadas a esquecer. A data é comemorada apenas com troca de presentes. As pessoas esqueceram que naquele dia nasceu Jesus, que ele sacrificou a vida para ensinar muitas coisas a todos e que todos têm um papel para fazer do mundo um lugar mais justo. Esse é o fundamental, o principal, que foi esquecido. Todo mundo fica alegre, mas a maioria esquece.

O budismo tem data parecida com o Natal?
O budismo tem no mês de maio uma data semelhante ao Natal. Buda nasceu, foi iluminado e ascendeu ao Nirvana em maio. Então comemoramos todos esses acontecimentos com cerimônias na primeira lua cheia do mês: é o Vesak, que faz parte, inclusive, do calendário oficial de São Paulo, no segundo domingo de maio. Essa data &