Especialistas discutem mudanças no atual modelo do mercado financeiro

Tema faz parte da Conferência "Expressões da Globalização, Análises Comparativas Brasil-Alemanha" organizada pela CNM

Com o objetivo de discutir o papel do sistema financeiro e do mercado de ações no capitalismo contemporâneo, a segunda mesa de debates da Conferência “Expressões da Globalização, Análises Comparativas Brasil-Alemanha” reuniu a representante da central sindical estadunidense AFL-CIO, Heather Slavkin, o professor Doutor do Instituto de Economia da Unicamp, Marcos Antônio Cintra, e o professor alemão Ronald Schettkat, da Fundação Hans Böckler. O secretário de finanças da CNM/CUT, José Wagner de Oliveira foi quem mediou o encontro.
Ações sindicais no enfrentamento da crise

Em sua apresentação, Slavkin apresentou aos 200 participantes, dados sobre como a crise do mercado imobiliário atingiu o sistema produtivo nos EUA e no mundo.Para a representante da AFL-CIO, o movimento sindical estadunidense tem reagido e se organizado perante a crise. “Nós ajudamos a fundar organizações de consumidores para participarem mais ativamente das reformas financeiras e bancárias”, disse.Ela também falou das respostas do governo dos EUA para o enfrentamento da crise, confrontando a injeção de liquidez nas instituições financeiras e nas empresas automobilísticas com a ausência de políticas de preservação do emprego. “Por tudo o que aconteceu, há uma raiva generalizada na população”.”As regulamentações financeiras precisam ser globais”, completou.

Democratização do capitalismo
Na seqüência, o professor Marcos Antônio Cintra assumiu a fala dizendo que o mercado de capitais para o movimento social e sindical tem duas abordagens fundamentais. “Primeiro, é democratização do capitalismo e a outra é o problema da expansão da cidadania no mundo dos negócios”, referindo-se a uma maior participação popular no mercado.Segundo o professor, há duas teses: na primeira, a crise seria um impasse da sociedade capitalista. A segunda é que ela é mais claramente um momento em que não há referências de preço, câmbio. “O mercado de capitais terá que ter mais distância em relação ao setor bancário. Não é possível que aplicações de alto risco envolvam a poupança das pessoas e fundos de pensão”.

Cintra não crê que o sistema neoliberal esteja em crise. Mas sim que vários aspectos terão que ser corrigidos. “Felizmente entrou na agenda do mundo o fim dos paraísos fiscais. Parte do capital aceita que isto é um problema. As nossas piores crises financeiras foram favorecidas enormemente pela existência dos paraísos fiscais, que tiravam divisas nos países, ampliando os problemas”. E exigiu contrapartidas: “Se hoje a bolsa de valores está em pé, se os bancos estão em pé, foi o Estado que financiou isso. Por isso exigimos algo em troca.”

O professor declarou ainda que o Brasil é um país marcado por um sistema financeiro pequeno, estreito e desleal. “É um sistema muito moderno, do nível de qualquer país desenvolvido. Mas a taxa de lucro dos bancos é uma das maiores do mundo e o mercado de capitais é estreito.”

Atual modelo econômico atingiu profundamente a Alemanha
Na última fala da mesa, o professor Ronald Schettkat, da FHB constatou que a Alemanha é hoje o país mais afetado com a crise, pois depende muito das exportações.

Ele questionou o modelo que sempre aposta na expansão da economia, se não estaria no fim. “Sempre exportamos mais que importamos. Esse modelo não é sustentável”, disse.

Ronald afirmou que no próximo ciclo, a Alemanha terá cerca de 5 milhões de desempregados e que o fosso entre ricos e pobres cresceu assustadoramente no país. “Se antes primávamos pela boa distribuição salarial, hoje a diferença de renda está bem maior”, lamentou.

“Precisamos de regulação financeira do Estado. Não é uma agência que vai definir que pode ter crédito ou não”, finalizou.

No final do debate, os participantes assistiram a um vídeo em que o conselheiro do governo Obama, Ron Bloom, previa em abril de 2008 a crise que estaria por vir. À época, Bloom era conselheiro da USW, sindicato do ramo siderúrgico nos EUA e veio ao Brasil a convite da CNM/CUT para falar sobre empresas de capital aberto.

Da CNM/CUT