Esperança e emprego

Em placas escritas por eles mesmos ficava claro os objetivos dos jovens que iniciaram ontem no Programa Primeiro Emprego. Em primeiro lugar, com ampla maioria, anotaram emprego e esperança. Depois vieram formação, qualificação, conhecimento e futuro. Todos, também, se consideram privilegiados com a oportunidade.

Exemplos diferentes deste sentimento são encontrados em Diego Wellington, 17 anos, Elizabete de Jesus Rocha, 24 anos, moradores em São Bernardo e com o segundo grau completo, e Paulo Henrique da Silva Moreira, 17 anos, também de São Bernardo, estudante do segundo grau.

Diego é expansivo, nunca trabalhou nem procurou emprego. Sempre morou com os pais, que o sustentam. “Sou privilegiado porque tem muita gente precisando mais que eu”, reconhece. “Por isto vou valorizar a chance que me deram, desde os organizadores aqui até o governo federal”.

>> Soldador

Paulo Henrique fala pouco. Faz bicos desde os 13 anos como ajudante de funileiro, ajudante de mecânica, servente de pedreiro e “muitos outros serviços puxados onde sempre ganhei pouco”. Por isto considera o primeiro emprego sua grande oportunidade: “Terei a garantia de um salário, o que não acontecia antes, e vou tentar direcionar meus estudos para ser soldador”. Diego também tem pretensões modestas: “Gostaria de mexer com desenho, de preferência com peças”.

Só dão a mesma resposta quando a pergunta é namoro. “Tá enrolado”, dizem. De resto, Diego gosta de pagode e Paulo Henrique, de hip hop. Diego acompanha telejornais e lê Paulo Coelho. Paulo Henrique prefere o esqueite e o breique (os passos de dança do hip hop).

>> Currículo extenso

Já Elizabete é o exemplo exato da tese de que empregos só surgirão plenamente com o crescimento da economia. Poucos integrantes do PPE são tão preparados como ela, que há três anos procura uma vaga no mercado de trabalho e só consegue dar uma ou outra aula particular.

Natural de Contendas do Sin-corá, no interior da Bahia, de onde saiu no ano 2000, Elizabete fez todos os cursos grátis que pôde encontrar. Ela tem diploma de auxiliar administrativa, vigilante patrimonial, operadora de telemarketing e diversos outros fornecidos pelo Sebrae, além de um de promotoria, feito em Santo André. Para chegar no horário levantava às 4h e ia a pé por não ter dinheiro para o ônibus. “Só posso louvar a quantidade de cursos oferecidas no ABC”, afirma.

Extremamente bem informada, é fã de Jorge Amado e outros autores nacionais como Raul Pompéia e José de Alencar, além de ler sete jornais por dia: os quatro grandes de São Paulo e três de São Bernardo. Foi assim que soube do PPE. Toda manhã levanta às 5h, anda uma hora até a biblioteca para ler os periódicos. Em um destes jornais soube do programa.

“Chorei muito quando soube de minha escolha. Surpresa e emoção se misturaram. Eu, que estava desesperada, senti de volta a auto-estima. Sonhei de novo com o curso na faculdade de Comunicação Social e, como dizia Jorge Amado, quando o ser humano deixa de sonhar, deixa de viver. Por tudo isso sou uma privilegiada”, conclui.