“Espero que isso tudo promova uma nova onda de conscientização”

O pastor faz um pedido à categoria: “Mais uma vez a gente conta com a resiliência, a coragem e a reação que os metalúrgicos já demonstraram ter”

Foto: foto: Joka Madruga

Na última edição do ano, antes da retrospectiva, a Tribuna conversou com o pastor e teólogo Ariovaldo Ramos, um dos fundadores da Frente de Evangélicos Pelo Estado de Direito. Confira nesta entrevista a mensagem de esperança para o próximo ano, as críticas ao governo pela situação em que o Brasil se encontra, o incentivo para que todos tomem a vacina pelo bem comum e o recado à categoria metalúrgica. Ariovaldo comanda o programa “Daqui pra frente” que vai ao ar aos sábados, às 11h, na TVT.

Tribuna Metalúrgica – A vacina contra a Covid-19 é a grande expectativa para os próximos meses ou dias, mas muitos brasileiros não querem tomar. Qual o seu conselho?

Pastor Ariovaldo – Temos que exigir, a vacina é um direito antes e acima de tudo. Temos que ser vacinados, isso é urgente. Uma vez que a vacina esteja disponível do ponto de vista científico, a coisa mais sábia a fazer é se deixar vacinar. Sabemos que há um grupo contrário à vacinação, de um lado tem a ver com a falta de informação e conhecimento mínimo necessário, mas também com essa propaganda negacionista do governo federal. Também, claro, tem os religiosos fundamentalistas que estão semeando a ignorância, isso é cruel, maldoso e tem que ser denunciado. A vacina, olhando do ponto de vista da fé, é uma graça divina.

TM – Mas o governo insiste em colocar medo na população, a ponto de o presidente anunciar que quem quiser tomar a vacina terá que assinar um termo de responsabilidade.

Pastor Ariovaldo – Isso é inadmissível, é criminoso. Imagina o que é dizer para um cidadão com enormes dificuldades de sobrevivência, graças ao péssimo desempenho desse governo, que se ele quiser se vacinar ele tem que assumir a responsabilidade. Baseado em quê? Que medo é esse? O que o governo federal está sugerindo? Meu recado é vacine-se e convença os demais a irem se vacinar, não tenha medo. São as melhores mentes da área trabalhando nisso. Ir contra a vacinação é corroborar com a morte.

TM – Nesse período, vimos aumentar muito a miséria no Brasil. O que está acontecendo?

Pastor Ariovaldo – O aumento da miséria no Brasil é um subproduto da política que passou a governar o país desde o golpe de Estado que começa com o governo Temer, com o estabelecimento do Teto de Gastos, a perda de direitos dos trabalhadores, com a falta de investimentos em infraestrutura. A miséria é eminentemente política. Com a falta de incentivo ao pequeno agricultor, o cancelamento da reforma agrária, a crise na construção civil que passa pela Lava Jato. É uma devassa o que a gente está vivendo desde 2016, é assustador.

TM – E dá pra ter esperança?

Pastor Ariovaldo – A esperança a gente sempre tem, esperança na própria ação divina que sempre sorri ao ser humano em momentos como este. Mas também a gente continua tendo esperança na solidariedade humana que graças a Deus sobreviveu. Uma das preocupações máximas quando vemos esse tipo de situação, é que isso roube a esperança do coração humano, a boa vontade e que as pessoas se cansem de fazer o bem, mas graças a Deus o povo reagiu com solidariedade. A outra esperança que tenho é do despertar da consciência que nos leve primeiro a protestar pelos nossos direitos, espero que isso tudo promova uma nova onda de conscientização e essa conscientização promova uma tomada de posição pelo direito.  

TM – Quer deixar um recado de fim de ano aos metalúrgicos do ABC?

Pastor Ariovaldo – As tomadas de posição dos metalúrgicos fizeram história neste país. Os metalúrgicos mudaram a relação sindical no Brasil, enfrentaram a ditadura e se tornaram farol no meio de uma escuridão imensa. Minha palavra é que em nenhum momento esmoreçam, que não percam a sua resiliência, sua esperança e a sua força de luta. Que mais uma vez se unam, não apenas em torno do direito da categoria, mas em torno do direito do trabalhador como um todo, que mais uma vez se lembrem que têm sido o coração do sistema sindical brasileiro e que precisam insistir nisso, principalmente agora que houve uma tentativa deliberada e criminosa do governo de enfraquecer as relações sindicais e de trabalho. Mais uma vez a gente conta com a resiliência, a coragem e a reação que os metalúrgicos já demonstraram ter. Que este seja um Natal de revigoração das suas forças e de preparo para um enfrentamento em favor do trabalho, da justiça social e da igualdade entre os brasileiros!