“Esse livro é nossa herança para as próximas gerações”

Ao longo de mais de sete anos, grupo de cerca de 150 colaboradores reuniu entrevistas, boletins, documentos e imagens inéditas para construir registro fiel da luta na fábrica

Foto: Adonis Guerra

O Sindicato foi palco no último sábado, 2, de um reencontro marcado por emoções e lembranças. Na Sede, em São Bernardo, foi lançado o livro ‘Memórias da Luta de Classe – A histórica união e organização dos trabalhadores e trabalhadoras na Motores Perkins-Maxion’ (Editora Coopacesso), uma obra que não apenas conta a história, mas revive a trajetória de resistência de trabalhadores que enfrentaram jornadas exaustivas, máquinas obsoletas, chantagens patronais e, ainda assim, construíram uma das experiências de organização mais marcantes do ABC paulista.

Foto: Adonis Guerra

O projeto nasceu do coração e da memória coletiva da Astramp (Associação dos ex-trabalhadores e trabalhadoras na Perkins-Maxion) e foi viabilizado com recursos arrecadados pelos próprios companheiros. Ao longo de mais de sete anos, um grupo de cerca de 150 colaboradores — entre operários, dirigentes e apoiadores — reuniu entrevistas, boletins, documentos e imagens inéditas para construir um registro fiel da luta desses trabalhadores e trabalhadoras.

Para o secretário-geral do Sindicato, Claudionor Vieira, o lançamento é mais do que um resgate histórico: é um ato político. “A maior conquista que um coletivo pode ter é o respeito, e isso só acontece quando a empresa sabe que, por trás de cada representante, há um exército de companheiros unidos. Os trabalhadores na Perkins tiveram a honra de representar sua categoria com brilho e construir uma unidade rara, que se mantém viva quase 30 anos após o fechamento da fábrica. Este livro é a prova de que nossa história precisa ser contada por quem a viveu”.

O presidente da Astramp, Carlos Anselmo Souza Rocha, emocionou ao relembrar o caminho até a publicação. “Não tínhamos pressa porque essa obra precisava nascer cheia de verdades. Somos como uma colcha de retalhos: cada companheiro trouxe sua parte para costurar a história de 2.340 trabalhadores que deixaram ideias, soluções e muita luta. Esse livro é nossa herança para as próximas gerações”.

Resgate

Foto: Adonis Guerra

O evento reuniu ex-trabalhadores, familiares, professores e dirigentes sindicais. Entre abraços, fotos e conversas, ficou evidente que a obra é mais do que um registro: é um reencontro com o passado para fortalecer o presente e inspirar o futuro.

A narrativa também resgata episódios duros, como jornadas de 11h30 diárias, sem descanso em fins de semana ou feriados, e denuncia a colaboração da empresa com a ditadura militar. Para o movimento sindical, trata-se de um alerta: a defesa da democracia e da soberania nacional é tarefa permanente.

O lançamento na Sede reforçou um princípio que sempre norteou a categoria metalúrgica: a história dos trabalhadores só sobrevive quando é contada por eles mesmos. E, como lembrou Claudionor, “a luta não para nunca. Sempre teremos motivos e desafios para seguir em frente — e, nos dias de hoje, esses motivos só aumentam. Defender a democracia e a soberania do nosso país é defender o direito de cada trabalhador e trabalhadora decidir o próprio destino. É por isso que seguimos firmes, porque, sem luta, não há conquista”.