Estatísticas e eleições
O DIEESE tem o termo “estatística” em seu próprio nome. As estatísticas cumprem um papel muito importante ao tentar tornar mais precisa a leitura de uma dada realidade, muitas vezes emaranhada e complexa. Mais ainda: os testes probabilísticos permitem que façamos projeções, em bases lógicas, sobre a ocorrência futura de uma situação. Podemos ou não acertar, isto é uma outra questão. Mas as chances que temos de acertar são maiores do que de errar, se bem utilizado o ferramental estatístico. Desta maneira, a estatística é, para alguns, um dos principais instrumentos da “ciência”: deve-se fazer uma lei explicativa de um fenômeno após testado estatisticamente uma determinada hipótese científica.
Esta introdução um pouco árida para esta coluna, serve apenas para destacar quão poderosos e úteis podem ser os “números” da estatística. Porém, é preciso ter muito cuidado: certos tratamentos estatísticos que têm uma auréola científica, em realidade nada têm a ver com ciência. Por exemplo, alguém pode fazer uma pesquisa de opinião pública, e, a partir dos resultados, ressaltar que 30% da população apóia o governo do presidente “X”. Todavia, um bom estatístico mostraria também, por exemplo, que, além desses 30%, existe 50% da população que reprova a gestão do presidente e outros 20% que não tem opinião formada. Há uma diferença grande em ambos os tratamentos, não?
Um outro exemplo, atualíssimo, é o das pesquisas em vésperas de eleição. Os institutos de pesquisa alegam que as pesquisas em nada interferem no voto do eleitor. Ora, será mesmo? Pergunte a si mesmo, leitor, e aos seus amigos mais próximos, qual a reação do eleitor que, ao ler ou ouvir o noticiário na manhã do dia das eleições, é informado que, conforme a estatística do renomado instituto “Y”, seu candidato teve uma queda acentuada nas pesquisas, e que são baixas as suas chances. Perguntamos: não é muito provável que uma parte do eleitorado se deixe influenciar pelos números do café da manhã?
Além disso, isto é, do fato da própria pesquisa interferir na decisão do eleitor, há ainda a questão dos diversos interesses em jogo: de quem contrata a pesquisa, de quem realiza a pesquisa, de quem veicula etc. Mesmo que se considere a lisura na elaboração da pesquisa, cada um dos elos desta rede de interesses pode lidar de uma ou outra forma com os mesmos resultados de uma pesquisa.
Não temos uma solução pronta e acabada para esse problema. Mas é preciso que o País discuta de modo sério uma regulamentação criteriosa das pesquisas eleitorais. Afinal, o tratamento estatístico pode ser tudo, menos absolutamente neutro.