Estresse e Discriminação
Há alguns dias, atendendo uma trabalhadora, ouvi a seguinte queixa:
– Estou muito estressada. Não consigo mais dormir sem remédio, não me concentro em nada que estou fazendo, me alimento mal, já engordei alguns quilos e o pior, agora, tenho crises de choro todos os dias quando estou indo para o trabalho.
Fiquei surpreso. Não é comum uma pessoa se abrir assim de bate pronto. Senti que estava diante se uma situação grave. Tentei desviar um pouco a conversa para outros assuntos para criar um clima de maior confiança e deixá-la mais a vontade. Percebia claramente que aquilo tinha lhe custado muito.
Depois de algum tempo de conversa voltamos ao assunto e perguntei-lhe.
-A que você atribui o seu estresse?
E ela suspirando fundo me disse:
-Ao meu trabalho. Sou manipulada o tempo todo. Pedem-me sempre mais trabalho, mais capricho, mais perfeição. Mais dedicação à empresa. Se eu não estou bem me olham com desconfiança, se preciso ir ao banheiro esperam que eu me ausente e vão ao meu posto de trabalho perguntar por que não estou lá. Dizem que eu preciso colaborar, render mais, trabalhar aos sábados à tarde, fazer horas extras no final da jornada; enfim, me pressionam o tempo todo.
Parou de falar, enxugou os olhos, engoliu em seco e continuou:
-Estou lá há vinte anos, sempre fui correta. Nunca deixei de fazer minha obrigação. Nunca prejudiquei a empresa nem minhas companheiras. Agora não agüento mais.
Intrigado, perguntei se havia acontecido alguma coisa específica, uma bronca, uma discussão, uma advertência, algo que estivesse desencadeando o quadro de desarranjo psíquico em que se encontrava.
Ela então me olhou nos olhos e calmamente falou:
– O que mais me estressa é o preconceito. Quando me vejo mais velha, mais triste, mais sem vida, sinto que por mais que eu trabalhe, me esforce e me dedique, por mais que eu faça tudo que me pedem e, ainda que eu conseguisse fazer o impossível, nada mudaria. Eu continuaria sendo só um número, uma pessoa sem alma, uma peça da máquina chegando a hora de ser trocada. É muito difícil ser mulher.
Sem conseguir falar nada, apenas pensei… É muito difícil ser mulher, ser negro, ser trabalhador, ser pobre, ser nordestino, ser jovem, ser idoso, ser diferente. Mas, ser diferente é algo individual. Quando a diferença passa a ser valorizada socialmente é preconceito e discriminação.
Departamento de Saúde do Trabalhador e Meio Ambiente