Estudo mostra que custo industrial deve cair 14% em 2013
A redução média dos custos industriais em função das medidas adotadas pelo governo deve ser de cerca de 14% em 2013, segundo projeção do professor do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Francisco Eduardo Pires de Souza.
No cálculo, Pires de Souza levou em consideração informações disponíveis até julho e estimativas dos impactos da desoneração da folha de pagamento para diversos setores da indústria, da redução do custo de energia e da desvalorização cambial.
Durante exposição no 9º Fórum de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV), Pires de Souza avaliou que a política industrial do governo, focada na redução de custos industriais, permitiu que o setor “vire a página”, o que deve ficar mais visível a partir do próximo ano.
O economista citou outras iniciativas adotadas pelo governo Dilma Rousseff em direção ao objetivo de reindustrializar o país. “Começou com a mudança no mix de política econômica, em que a redução de juros rompeu com alguns mitos, como o que dizia que não era possível reduzir a Selic por causa da remuneração da poupança. Tivemos também políticas mais contundentes de intervenção no câmbio, que desde maio se situa em torno de R$ 2.”
O professor da UFRJ acredita que ainda é possível avançar na redução dos custos industriais. O custo unitário do trabalho, por exemplo, deve recuar cerca de 3% no próximo ano por causa da desoneração da folha, mas ganhos de produtividade poderiam aprofundar esse benefício. Para Pires de Souza, há um ganho fácil de produtividade com a recuperação cíclica da produção, mas é necessário avançar em ganhos sistêmicos, por meio de investimento em infraestrutura, e de políticas de longo prazo que favoreçam a qualificação da mão de obra.
Mesmo com as reformas já promovidas, Pires de Souza acredita que o real terá que perder força em relação ao dólar para que o processo de reindustrialização do país ganhe fôlego. Entre 2004 e 2011, os custos da indústria brasileira subiram 6,7% ao ano. O câmbio, que poderia ter contrabalançado esse aumento de custos, se valorizou no período. Em dólar, o custo industrial aumentou 10,3% anualmente.
Para que o país continuasse competitivo em relação à China, o câmbio nominal teria que ter ficado em 184 pontos, tomando como índice de base 100 o ano de 2004. O real, no entanto, andou em sentido contrário e estava em 71 pontos, segundo cálculos do professor. Por isso, diz, “a depreciação adicional do real será necessária”, afirma.
O tema da baixa qualificação da mão de obra na América Latina foi colocado em debate no fórum da FGV por Ben Ross Schneider, diretor do MIT-Brazil Program, do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT, na sigla em inglês). Segundo ele, um dos fatores que explicam a baixa qualificação da mão de obra na região é o baixo retorno financeiro dos investimentos em educação. No Chile, exemplifica Schneider, 40% dos profissionais não ganham o suficiente para compensar o investimento feito na universidade.
Ele ressaltou que, nos países desenvolvidos, o retorno para cada ano de educação é superior a 12%, enquanto na América Latina esse percentual não chega a 7%. “Mesmo entre os países em desenvolvimento, há muitas diferença no que se refere a educação. Na Ásia, o retorno dos investimentos em estudos é muito maior que na América Latina”, disse Schneider.
Do Valor Econômico